Urgências na Comunicação
Trabalhamos, até aqui, no solo do conceito de hegemonia, contudo sem explicitá-lo. De uma forma mais geral, a hegemonia é compreendida como “capacidad de dirección” e “se habla de hegemonía política, aunque también de hegemonía cultural, religiosa, económica etc.”, como definem Bobbio e Matteucci (1984). Contudo, é em Gramsci que o conceito de hegemonia deixa a esfera exclusivamente intelectual para alterar e transformar a práxis, isto é, interferir em nossos cotidianos e nas maneiras de ver e agir no mundo. Em Gramsci o conceito é fecundo e se torna uma ferramenta da prática política e cultural, da práxis, orientando movimentos mais coesos nas lutas políticas, no sentido de que a revolução “por baixo”, popular, só será possível quando o que se entenda por “popular”, isto é, as classes trabalhadoras, produtoras que são de suas próprias condições de existência, mostrar capacidade dirigente e de liderança política e cultural da sociedade, em um rumo “alternativo” ao capitalismo, isto é, forjando nova hegemonia.
Neste sentido, a mídia alternativa, hoje, é um conceito da prática bem mais ampla de produção de comunicações que hoje ocorrem na sociedade brasileira, e não somente nela, constituindo movimentos que se espalham também em direção às ocupações e disputas dos espaços midiáticos e da produção de sentidos que as novas tecnologias de informação vão possibilitando, sem que ainda o capital tenha conseguido comprá-las, “controlá-las”, ocultá-las, silenciá-las ou absorvê-las, tais como fenômenos da indústria cultural. Mídias que vão contra a hegemonia, com falas “diferentes” e que fazem diferenças e diferentemente. Fazer um blog na internet é bem mais fácil e possível do que editar um jornal impresso. Em muitas comunidades populares os moradores montam projetos de comunicação, que vão das rádios comunitárias ao orkut e aos vídeos na internet. Como constata Dênis de Moraes (2009), “há uma emergência da comunicação alternativa em rede como manifestação contra-hegemônica, numa direção anticapitalista e antineoliberal (...) práticas ativistas que se apropriam de tecnologias digitais para expandir o alcance de suas interferências críticas”.
Referências bibliográficas
Bobbio, Norberto. Matteucci, Nicola. Dicionário de Política. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Argentina Editores, 1984.
Coutinho, Carlos Nelson. Gramsci, um estudo sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Gomes, Nilo Sergio S. Em busca da notícia – Memórias do Jornal do Brasil, 1901. Tese de Mestrado defendida na UNIRIO em julho de 2006. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Memória Social do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em www.dominiopublico.gov.br.
Konder, Leandro. Iraré, o humorista da democracia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.
Lage, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Florianópolis: Editora Insular, UFSC, 2001.
Leite, Renato Lopes. Republicanos e libertários – Pensadores radicais no Rio de Janeiro (1822). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
Lima, Lana Lage da Gama. Rebeldia Negra e Abolicionismo. Rio de Janeiro, Achiamé, 1981.
Moraes, Dênis. A batalha da mídia: governos progressistas e políticas de comunicação na América Latina e outros ensaios. Rio de Janeiro: Pão e rosas, 2009.
Ribeiro, Ana Paula Goulart, e Ferreira, Lúcia Maria Alves. Mídia e
memória – A produção de sentidos nos meios de comunicação. Rio de
Janeiro: MauadX, 2007.
Woitowicz, Karina Janz. Recortes da mídia alternativa – Histórias &
memórias da comunicação no Brasil. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2009.
Por Nilo Sergio S. Gomes, jornalista, pesquisador, professor, doutorando da Escola de Comunicação da UFRJ.
0sem comentários ainda