Ir para o conteúdo
ou

Software livre Brasil

 Voltar a Desconferência
Tela cheia Sugerir um artigo

Mídia Alternativa 05

21 de Agosto de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 1230 vezes

O novo século

A virada para o novo século coincidiu com a difusão e a popularização das novas tecnologias comunicacionais, em especial, a internet. O fenômeno da rede de computadores é mundial e através dela novas vozes e sonoridades ganharam espaço e relevo, alterando condutas, comportamentos e as próprias expressões dos processos comunicativos. Uma tentativa de golpe para destituir o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, terminou derrotada em grande parte pela capacidade e velocidade com que a informação correu o país e o mundo.

Na Espanha, uma campanha denunciando uma afirmação mentirosa do então primeiro-ministro José Maria Aznar, que correu o país via mensagens eletrônicas transmitidas por celulares e pela internet, foi fundamental para uma “virada” na disposição dos eleitores e a reeleição do conservador Aznar, que parecia assegurada, transformou-se em derrota, com a vitória, na reta final, do candidato socialista José Luiz Zapatero. No Brasil, apesar de todo o aparato da mídia hegemônica o candidato à reeleição para presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, terminou vitorioso, mesmo com o apoio escancarado das principais redes de televisão e de rádio e dos principais jornais ao outro candidato Geraldo Alckmin. As mensagens transmitidas via internet, uma delas, inclusive, denunciando a “montagem” de uma reportagem que teve grande repercussão na época, na chamada “grande imprensa”, foram fundamentais para o êxito de Lula.

A internet vem conquistando novos públicos e abrindo espaços “mais democráticos” para a comunicação, no país e no mundo, desta forma incentivando uma profusão de blogs, portais e comunidades virtuais através dos quais novas mensagens – sonoras e visuais – são produzidas, não poucas vezes desmentindo uma informação divulgada pela “grande mídia” ou mesmo ironizando os discursos midiáticos e desvelando (isto é, “desocultando”) os interesses que estão por detrás de determinada mídia ou de determinada cobertura jornalística. É pela rede mundial de computadores que jovens de comunidades periféricas ou de favelas tem conseguido ampliar suas vozes, amplificando suas reivindicações e conferindo a elas uma exposição até então inédita, tanto em sua abrangência quanto na expressão mesma de suas “falas”, isto é, seus discursos. Há, portanto, novas vozes no ar, novos sons e novos vídeos, o que, objetivamente, altera em termos significativos a “correlação de forças” no mundo da mídia, até então “possessão” praticamente exclusiva de poucos grupos empresariais, embora rádio e televisão sejam concessões de caráter público. Ao mesmo tempo, são práticas comunicacionais que se desenvolvem no meio popular, criando e incentivando novas culturas, novos hábitos.

A luta pela democratização dos meios de comunicação não teve, sequer, parte de seus alvos alcançados, muito pelo contrário. Mas as novas tecnologias avançaram de tal maneira o processo informativo e das comunicações, no país e no mundo, que os meios de comunicação de massa e o jornalismo por eles produzido e transmitido estão no centro de um debate nacional presente, hoje, na sociedade brasileira. Mesmo que não tão presente quanto deveria, este debate diz respeito ao caráter dos meios de comunicação (públicos ou privados? Quem os controla?), seus rumos, seu passado e, sobretudo, seu presente e seu futuro, com as “convergências tecnológicas”. A mídia informativa e, portanto, a sua oponente e diferenciada “mídia alternativa”, também estão no foco deste debate. Junto com elas, de forma inseparável e inextricável, está em discussão o próprio jornalismo, seu caráter e a serviço de quem ele é produzido e transmitido.

As chamadas “convergências tecnológicas” aparecem como grande desafio e terreno de disputas nos novos cenários proporcionados pelo desenvolvimento tecnológico. No mesmo momento em que se debate e define a radiodifusão digital, as convergências tecnológicas ganham espaço, levando para aparelhos de telefonia celular e para os microcomputadores portáteis imagens e sons que, até então, eram cativos da radiodifusão tradicional, isto é, aquela vinculada aos poucos grupos familiares que “controlam” redes nacionais de emissoras de rádio e televisão. Este debate sobre as convergências tecnológicas estará em um dos focos da Conferência Nacional de Comunicação, que, dependendo de seu êxito e do poder de mobilização que irá deflagrar, poderá colocar a limpo toda uma história de exclusões, apropriações indébitas e privatização de bens públicos por interesses privados e do capital. E, além disso, bem mais além, essas novas conquistas e convergências tecnológicas colocando no centro da discussão as questões de conteúdo e de infra-estrutura das novas comunicações, cada vez mais ampliadas.


Por Nilo Sergio S. Gomes, jornalista, pesquisador, professor, doutorando da Escola de Comunicação da UFRJ.


Tags deste artigo: mídia alternativa nili gomes

0sem comentários ainda

Enviar um comentário

Os campos são obrigatórios.

Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.