Comunidade, do latim communĭtas. Grupo de indivíduos que partilha uma crença econômica ou social particular e vive em conjunto.
O significado de comunidade é bonito, porém inócuo na “comunidade Joomla!” brasileira. Nela, partilhar uma crença social e viver em conjunto, são atividades tão distantes quando a estrela Vega, onde interesses pautados por casuísmo de todos os tipos, são a regra de alguns indivíduos parasitários unidos pelo interesse pessoal de pilhar o que puderem em seu próprio benefício.
De outro lado, existem aqueles indivíduos que vivem o romantismo de acreditar consertar o que está errado sem um verdadeiro choque de gestão e cultura. Por medo de confrontamento, educação ou mesmo formação, se deixam levar por condições, cenários e bonitos discursos de melhoria e renovação, mas acabam tragados pelo lodo existente, sem pouco fazer, pouco mudar.
E aquilo que poderia ter sido a virada de página para a criação de uma nova comunidade Joomla!, forte, atuante e sem amarras com um passado pouco distante de erros e assaltos, tornou-se motivo de chacota, fúria e decepção para muitos (inclusive eu). A escolha do layout para o website oficial do evento nacional, Joomla! Day Brasil, provou mais uma vez que os caminhos escolhidos continuam errados e que “comunidade” não passa de uma bonita palavra usada de acordo com os interesses do momento.
Depois de fiascos em alguns eventos e tomadas de assalto noutros, decidiu-se realizar um evento nacional que pudesse renovar a comunidade e trazer novamente os elementos dispersos e com pouco interesse, para o berço. Com uma proposta inovadora, este seria o primeiro evento onde a comunidade participaria desde o começo, já com a escolha do layout que seria usado no website oficial. Isto daria não somente visibilidade para aquele que o desenvolveu, mas a certeza de estar contribuindo com uma nova comunidade em formação. Por tabela, os mais afastados ou incrédulos poderiam ver novamente um fio de esperança nas mudanças vindouras de um claro futuro.
Mas a idéia não se sustentou a primeira investida. Numa decisão unilateral de alguns poucos, foram chamados cinco membros da “liderança internacional” (nenhum brasileiro) para decidir qual seria a arte que o evento do Brasil adotará. Com o discurso de imparcialidade e engajamento, deixou-se de lado parte deste discurso, abrindo para “gringos” a escolha daquilo que será a “cara” do evento brasileiro, sem nenhuma participação de membros da fragmentada comunidade nacional, fosse por opinião, fosse por votação, fosse por aclamação. Simplesmente elegeu-se “notórios” em alguma coisa fora das terras brasileiras para que escolhessem o que os brasileiros usarão como marca de sua comunidade.
Questionando o perfil oficial do evento no Facebook especificamente sobre a questão da escolha de cinco estrangeiros para a comissão e oferecendo uma alternativa que seria a escolha do layout por brasileiros, obtenho como resposta que “seu discurso não está aderente com a integração que propomos para esse evento”. Ora, se o “discurso” de fazer com que a escolha dos layouts apresentados fosse realizada por brasileiros não está “aderente” ao evento, o que estaria aderente? A contratação de alguém no Freelancer.net ou a compra de um layout no RocketTheme? Qual é o tipo de engajamento da comunidade brasileira neste processo. Será que “os eleitos” são mais capazes ou melhores que os tupiniquins para escolher o que é nosso? Será que precisamos dar continuidade a subserviência que ronda nossa história desde quando o país foi “descoberto”?
Observe que meu questionamento não é sobre o layout escolhido, mas sim sobre quem o escolheu e como “os eleitos” foram escolhidos. Não sou designer e não dou pitaco na área porque não sei fazer bolas redondas e tampouco quadrados quadrados. Isso é algo que criativos podem fazer e eu somente poderia dizer, aos meus olhos, que este é mais bonito que aquele “para meus olhos, para meu gosto”. Já fui convidado para ser “jurado” do concurso Peixe Grande realizado pela revista Wide do Rio de Janeiro por dois anos e, em todos, sempre no quesito “tecnologia”, nunca para “design”. Sou programador, sou codeiro, não sou designer. Não vou dar pitaco onde não conheço. Bom senso somente.
Mas acontece que existem pessoas agraciadas pelos deuses que chutam com duas pernas e num assombro de coincidência, conseguiram juntar cinco delas para escolher o layout do Brasil. Dos cinco membros da comissão, somente um tem relacionamento com layouts ou partes gráficas. Os demais, desenvolvedores de código ou nem isso.
- Dianne Henning – Web developer
- Joe Sonnen – Hosting e SEO
- Peter Bui – Web Design & Development
- Saurabh Shah – Front-end developer
- Tessa Mero – College Instructor in Web Dev
Seria então justo acreditar que o critério de escolha da comissão não estava na capacidade de dizer se este ou aquele layout é mais bonito, charmoso ou que atende qualquer tipo de padrão, mas sim na conveniência para o “uso” de determinadas pessoas como “avalistas” do que está sendo feito no Brasil? Eu realmente tenho minhas dúvidas sobre os critérios usados e creio morrer com elas.
Decerto existem interesses adicionais à este processo: maior visibilidade no exterior (para quê, cara pálida?), maior interesse de patrocínio e outros menos importantes. Mas mesmo estes interesses se apresentam secundários quando deseja-se ter uma comunidade de fato, forte e atuante. Alegar que é necessário dinheiro para criar uma comunidade forte, seja para custear eventos, seja para dar visibilidade à mesma; não é criar uma comunidade, mas sim serviçais deste ou daquele interesse, pessoas ou grupo de pessoas. De outro lado, visibilidade acontece com “show me the code” ou, em bom português, “faça”. Se a comunidade terá cinco ou dez pessoas, que sejam cinco ou dez, mas pessoas que realmente vivem numa comunidade que compartilha, que trabalha para um bem comum e cujos interesses são de uma comunidade.
Em meus pensamentos, estas atitudes soam basicamente como a locação da comunidade e não a criação de uma. Nos meus quinze anos trabalhando ativamente dentro de diferentes comunidades de software livre, não me recordo de algo similar. Já vi acontecer em comunidades de software proprietário onde o que fala mais alto é sempre o dinheiro ou o interesse da empresa por trás do software. Nas de software livre, qualquer atitude como essa seria motivo para grita geral, pública e contundente, com resultados além da imaginação.
Tudo isso pode chamado de “tempestade em copo d’água” como alguns com pouca capacidade de argumentação adoram falar quando são confrontados, mas não é. Comunidades são construídas com democracia e meritocracia e uma proposta de engajamento comunitário que não leva isso em consideração torna-se somente mais um belo discurso para “inglês ver”. O erro não está na escolha do layout (que eu particularmente gostei do escolhido), o erro está na forma de condução do processo. Se existe realmente interesse em engajamento, aqueles que fazem parte da comissão organizadora deram um tiro no pé com uma cartucheira e levando consigo, o pouco de esperança de muitos que acreditavam numa verdadeira “comunidade” e não num “clubinho de cerveja e churrasco”.
Que venha o evento e que seja um sucesso. Mas ainda é preciso tirar muita lama e deixar de lado muitos vícios e costumes para poder chamar as pessoas que lá estarão de “comunidade”.
O post A comunidade Joomla! brasileira e seus infindáveis erros apareceu primeiro em Paulino Michelazzo.
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