Ir para o conteúdo
ou

Software livre Brasil

0 comunidades

Nenhum(a)

 Voltar a uaiPod
Tela cheia

Sobre a escola na era digital

10 de Fevereiro de 2011, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 76 vezes

“As crianças de hoje não aprendem nada! O ensino é um absurdo!” Mais uma vez me vejo tentado a começar um post com uma fala típica das que escutamos nas entrevistas do Museu da Oralidade. Dita muitas vezes por educadores dos tempos do ensino ginasial, a citação em questão é comum quando os saudosos dos tempos antigos lembram-se dos estudos de latim e francês e de quando todos os alunos da sexta série eram obrigados a saber de cor a capital e a população até dos países da europa oriental.

É claro que eu entendo e até acho bonito que os mais experientes tenham saudades e se orgulhem de quando ocupavam as carteiras dos grupos escolares. Aquele era o tempo em que os professores eram os grandes detentores do conhecimento e que cada desvio de olhar do aluno poderia resultar num severo castigo. Mas a gente tem que admitir que o mundo é outro e os desafios também.

Paulo Freire nos ensinou que ler não é apenas decodificar letras e sílabas, mas entender a mensagem que está sendo passada, inclusive em sua dimensão social e política. É preciso saber pensar e, para isso, mais importante que ler códigos é preciso saber ler o mundo. Só assim a pessoa deixa de ser objeto e passa a ser sujeito de sua ação, conquistando a liberdade.

A leitura do mundo de hoje é bem diferente daquela de 50, 70, 90 anos atrás. O mundo de hoje é midiatizado. Significa que estamos diante, todo o tempo, de mensagens que nos vêm pela mídia, sobretudo a de massa. A criança de hoje tem muito mais acesso à informação do que as do passado, pois dá os primeiros passos assistindo televisão, freqüentando o cinema, escolhendo filmes para alugar e navegando na internet.

Nesse mundo atual, a escola não precisa mais cumprir seu papel de única fonte de informação e cultura. Pelo contrário, ela tem que ser uma ponte entre a criança e a informação de qualidade, fazendo com que o estudante desperte o quanto antes para a necessidade de compreender as mensagens sociais e políticas que estão por trás dos programas de televisão, dos filmes de hollywood e das músicas que escutam no rádio.

Fazer esta leitura do mundo midiatizado de hoje é o básico para que os meninos da era digital tenham capacidade de escolha e cresçam independentes do processo das indústrias culturais, que nos querem agindo e pensando conforme seus interesses corporativos e econômicos.

Assim como o processo de aprendizagem da leitura está atrelado ao da escrita, o da leitura do mundo também precisa estar ligado à da escrita da visão de mundo da criança. Essa escrita, agora, pode (e deve) usar também de meios digitais, uma vez que as tecnologias chegaram para fazer parte da vida de todos.

Peguemos por exemplo o audiovisual. O processo de produção de um filme, seja ele hollywoodiano ou do cinema novo brasileiro, envolve diversas escolhas, que vão desde a elaboração do roteiro à montagem final. Durante o andar da carruagem, determina-se a estética e o discurso daquele produto cultural. Esse discurso carrega consigo modelos de pensamento, gostos, estilo de vida, comportamento e contextos que qualquer espectador minimamente atento consegue enxergar em seu aspecto político, social e econômico. Quando se fala do cinema industrial ou da televisão comercial, por exemplo, fica claro que há uma mensagem de alienação do pensamento, de obediência e subserviência aos modelos instituídos.

Como ensinar, então, crianças e adolescentes a fazer esta leitura crítica do mundo? É preciso formar jovens:

- Criativos, que tenham interesse em recriar sempre a realidade que os cerca;
- Críticos, dotados de critério, e que não aceitem os formatos padrões da indústria cultural de massa como únicos;
- Curiosos, que não aceitem nenhuma informação como pronta, mas a entendam como um ponto de partida para descobrir mais e mais informação.

Ora, já está mais do que claro que a barreira entre emissor e receptor dos meios de comunicação está caindo por conta do avanço da internet. Isto traz grandes consequências para o modelo industrial de produção cultural, que leva rios de dinheiro para as mãos de poucos e procura sempre deixar a massa uniforme, acéfala, inerte, acrítica.

Os estudantes de hoje tem que se preparar para esse novo contexto desde os primeiros dias da escola. A educação de hoje tem que levar para o estudante a possibilidade de fazer a leitura de seu mundo utilizando das mídias acessíveis, seja o audiovisual, o hipertexto, o radiofônico. As crianças tem que aprender a lidar com o computador, as câmeras digitais, os telefones celulares para produzir, compartilhar, discutir e compreender conteúdos e, assim, dirigir melhor o olhar crítico.

Além de estarem formando a visão do mundo local que as cerca, elas estarão aprendendo a decodificar os processos que envolvem as mídias de massa, que ainda ocupam um lugar central na sociedade atual, mas que estão com os dias contados. Essa recriação da educação será comprida, mas com as gerações cada vez mais informatizadas, a tendência é que, em breve, consigamos aproveitar as tecnologias para mudar a escola e consolidar de vez a revolução que está em curso.


Fonte: http://viraminas.org.br/uaipod/2011/02/10/109/

0sem comentários ainda

Enviar um comentário

Os campos são obrigatórios.

Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.