9 de janeiro - segunda-feira (Chegada a Belém)
Por volta da uma manhã a comandante Caroline anunciava a alta temperatura que fazia em Belém naquela madrugada. O vôo com escala em BH transcorreu sem nenhum imprevisto e o tempo passou relativamente rápido porque me distraí um bom tempo lendo um texto na Piauí sobre a cidade de Nova Jaguaribara. Desço do avião e me chama a atenção um outdoor vangloriando o inédito investimento anual de 7 bilhões de reais na região amazônica. Fico um pouco indignado pensando que a usina deverá custar cerca de 4 vezes esse valor.
No aeroporto encontro um amigo que trabalha na INFRAERO e me ajuda a pegar taxi. Em Belém nessa época do ano é pleno inverno, mas mesmo assim a noite é muito quente e úmida e os quatro ventiladores não são suficientes para compensar a falta de janelas no quarto do albergue.
Depois de comprar as passagens para Altamira volto ao mercado do ver-o-peso onde mais cedo comera um delicioso açaí com peixe. A chuva da tarde começa a cair e me protejo, como muitos outros, na Estação das Docas. Passo por uma livraria e me chama a atenção um livro intitulado "Tucuruí: a barragem da ditadura" de Lúcio Flávio. Uma rápida busca na internet me convence a comprar o livro e a procurar o autor que coincidentemente mora muito perto de lá.
A noite, frustrado por não conseguir encontrar o autor, tomo uma cerveja com dois americanos que conheci no albergue: Cal e Michael. Me perguntam sobre meus planos e respondo que vou para Altamira. AL-TA-MI-RA repete Cal com ar de muita admiração. Pergunto porque o espanto e ele me conta que tem um tio que mora a anos no Brasil que insistiu que ele deveria conhecer Altamira, pois "tudo estava acontecendo por lá". No albergue mostro a volta grande do Xingu para o Cal em um mapa do Pará pregado na parede. Curiosamente no local onde deveria estar a volta grande havia apenas um grande lago com legenda: represa Kararaô.
Mais tarde aprendi que Kararaô é o nome do antigo projeto da usina de Belo Monte no fim da década de oitenta. O nome foi mudado porque, além de ser um grito de guerra indígena, remetia à forte imagem de resistência da guerreira Tuíra com seu terçado - espécie de facão - encostado nas bochechas do engenheiro responsável pela construção da usina.
10 de janeiro - terça-feira (Começa a Viagem)
Na rodoviária muita gente com pinta de estar se mudando. Entro no confortável ônibus da transbrasiliana e me sento ao lado de um rapaz que vai para Altamira com um amigo trabalhar para um senhor que ainda não conheciam. A viagem é bastante decepcionante para quem esperava vários quilometros de mata fechada. O pasto já toma conta da paisagem que perdera o interesse. Sem interesse na paisagem me resta o livro do Lúcio Flávio.
11 de janeiro - quarta-feira (A Transamazônica)
Passando por Tucuruí entramos na famosa Transamazônica e tive minha segunda decepção da viagem. É difícil acreditar que a estrada já fora como Fernando Moraes descreve em "O sonho da Transamazônica acabou" e por pouco não cruzamos seus 400 quilometros até Altamira sem um mísero incidente. Só para constar no relato, bem no fim da viagem quase em Alto do Xingu o ônibus ficou atolado por pouco menos de dez minutos.
A rodoviária de Altamira é pequena, mas o fluxo de pessoas ali, segundo a dona da cantina, crescera vertiginosamente nos últimos anos. A primeira impressão da cidade é a de um grande canteiro de obras. Por onde se olha pessoas construindo, reformando, pintando... Outra coisa que chama muito a atenção é a intensa presença da Norte Energia (NESA) e do Consorcio Construtor de Belo Monte (CCBM).
12 de janeiro - quinta-feira (D. Erwin Krautler)
Logo que acordo marco de almoçar com o Mauro, um rapaz que conheci no ônibus. Tenho uma ótima conversa com ele e Mayume, sua parceira, que me contam sobre a falta de estudos sobre o rio Bacajá e o impacto da usina sobre os moradores de suas margens que inclui uma tribo de índios Xikrins.
A tarde finalmente chegam meus amigos João, Ju e Diana. Eles vinham de Santarém de carona e a viagem atrasara um dia inteiro por conta de um atolamento no primeiro trecho até Rurópolis. Juntos vamos encontrar o bispo D. Erwin Krautler na prelazia do Xingu. Ele estava terminando uma missa para São Sebastião quando chegamos. Ao fim da missa, muito simpático, logo nos reconhece e nos recebe com um sincero sorriso e palavras de boas vindas. Notamos a presença de dois seguranças e nos contam que ambos o acompanham em todos os lugares desde que ele fora ameaçado de morte anos atrás.
13 de janeiro - sexta-feira (O Movimento Xingu Vivo)
Convidados por D. Erwin vamos a uma reunião do movimento Xingu Vivo. As pessoas estão sentadas em cadeiras de plástico de frente para uma senhora chamada Antônia Melo que aprenderíamos a admirar profundamente nos dias que se seguiram. Sua camiseta com a frase "As mulheres são como as águas, são fortes porque se juntam" indica que sua militância vai além da luta contra a barragem e remete a outros episódios terríveis da história de Altamira.
Melo chama à frente um a um: o professor universitário Marcel que fala sobre um plano de monitoramento de preços de Altamira visto que os preços de tudo, especialmente os alugueis, aumentava numa velocidade assustadora; o fotógrafo João que fala de sua experiência cobrindo a transposição do São Francisco; a guerreira indígena Sheilla que canta uma canção indígena e fala sobre a resistência indígena a construção da obra; e a Di que apresenta o ocupasampa e explica que viemos a Altamira para entender nosso papel na luta.
A tarde passamos na casa do índio, mas um segurança nos impediu de entrar. Uma moto chegava com uma encomenda de alimentos para um cacique. Mais tarde aprendemos sobre o "plano emergencial" que nada mais é do que uma mesada paga pela NESA às aldeias indígenas em forma de cestas de alimentos.
A noite fomos à UFPA aonde uma professora, Netinha, apresentava um projeto de pesquisa na área de letras. O projeto consiste em estudar as mudanças linguísticas em Altamira com a chegada da usina. A usina iria modificar a vida daquelas pessoas muito mais do que eu imaginava.
14 de janeiro - sábado (Santo Antônio)
Na sede do Xingu Vivo a Melo é uma entrevistada por dois advogados colombianos. A entrevista acaba e os advogados chamam um táxi para ir ao Santo Antônio. Carinhosamente somos convidados, eu e Ju, para acompanhá-los. Quem guia o táxi é Celso, o único taxista da cidade não envolvido em uma curiosa história.
Segundo relatos há alguns anos atrás um taxista fora assaltado, mas apesar da queixa à polícia nada foi feito. Dias depois um grupo de taxistas levou o assaltante rendido à delegacia. Esse episódio levou alguns taxistas a serem presos o que desencadeou uma reação que envolveu todos taxistas da cidade, exceto o Celso, que foram a delegacia renderam o delegado e soltaram os companheiros presos. O resultado foi a prisão de uns 15 taxistas envolvidos.
Santo Antonio é uma pequena vila em frente ao sítio Bela Vista - canteiro de obras de Belo Monte na parte final da volta grande do Xingu. O Ruy - acessor de imprensa do movimento Xingu Vivo - já estava no local e apresentou-nos ao presidente da associação de moradores de Santo Antônio. Ouvimos seu relato e aprendemos que a NESA havia prometido três possibilidades para os atingidos: nova residência, dinheiro ou carta de crédito, mas que na prática só àqueles que podiam comprovar a posse do terreno - uns 4 apenas - foi oferecida nova residência, os demais tiveram que se contentar com o dinheiro da indenização. A NESA diferencia os moradores entre os chamados telhados brancos - moradores novos - e os demais. Isso criou um grande racha na população que, se no princípio preferia a construção de uma nova vila, depois de saber que só uma pequena minoria teria direito a nova residência, começou a aceitar a indenização em espécie. Ouvimos pela primeira vez o conceito "seguidores de barragens", pessoas que ao saberem dos planos de construção de uma barragem compram casas populares na região que será atingida para receber a indenização. Os seguidores de barragens são sempre os primeiros a defender a usina e incentivam o resto dos moradores, muitos resistentes a construção, a aceitarem logo as indenizações. Encabeçando a fila de recebimento das indenizações, os seguidores de barragens costumam receber mais para contar aos demais sobre as vantagens de aceitar logo o dinheiro.
O resto da área é repleta de palafitas vazias. Os jardins ainda bem cuidados dão uma estranha sensação de abandono recente e abruto das casas. Depois de ouvirmos mais um relato nos banhamos no Xingu. Nadar no rio Xingu é uma experiência importante a qualquer um que queira emitir comentários sobre a barragem.
15 de janeiro - domingo (A Volta Grande do Xingu)
No dia anterior articulamos outra carona com os advogados. Dessa vez iríamos todos de voadeira - uma espécie de barco a motor - conhecer a volta grande do Xingu. Nossa primeira parada foi o Sítio Pimental onde soubemos que começou-se a construção de uma ensecadeira - um pequena barragem em um dos canais do rio. Os jornalistas tiraram diversas fotos da construção o que mais tarde forçou a NESA a anunciar oficialmente o começo das obras de barragem do Rio Xingu.
Atracamos na margem oposta à ensecadeira na ilha da Taboca. O cenário era horrível. Uma faixa de desmatamento de uns cem metros de largura por quilometros de extensão cortava a densa floresta amazônica ainda intacta nesta região. Os enormes troncos das árvores ainda pereciam ali expostos. Enquanto fotografávamos o local, os funcionários da CCBM nos filmavam com pequenas câmeras digitais "por segurança, pois não é permitida a presença de pessoas sem equipamento de segurança na área".
De lá fomos visitar uma aldeia de índios Araras. Depois de autorizados pelo jovem cacique, eles nos confirmaram a denuncia de que o rio semanas atrás estava estranhamente barrento. Aparentemente a CCBM havia começado a construir a ensecadeira, mas as chuvas destruíram o trabalho e fez com que a terra usada na construção contaminasse o rio. Os índios são muito sensíveis a este tipo de alteração nas águas, são capazes de perceber quando pequenos açudes estouram a muitos quilometros rio acima.
Sentamos todos em cadeiras postas em círculo para ouvir o ancião Seu Nego e um jovem cacique cujo nome infelizmente não me recordo. Seu Nego nos contou sobre a visita de um engenheiro da CCBM que tentou convencê-lo sobre o nível do rio após a construção da barragem. O rio não tem nível, disse.
O jovem cacique atraiu muito minha atenção. Me admirava a mistura entre a força e a responsabilidade de guerreiro e a imaturidade de garoto. Essa mistura se materializava em suas palavras duras que diziam que o índio, diferente do branco, se fosse pra luta iria pra guerra.
Quando começamos a voltar, depois de visitar outra aldeia e uma família ribeirinha, só a lua cheia nos iluminava e estávamos prestes a viver a maior aventura da viagem. O rio Xingu sobre muito no inverno - período das chuvas - e é bem seco no verão. Por isso, apesar de largo nesta época do ano, ele é de difícil navegação porque esconde muitas pedras. A velocidade em que seguíamos viagem indicava o medo do piloto em topar com alguma pedra. Seguíamos devagar até começar a chuva. O céu escureceu de vez e ficamos totalmente cegos em um barco sem farol. Não tinha o que fazer, o jeito foi atracar numa das margens e esperar a chuva passar. O piloto tirava uma soneca enquanto o resto procurava se distrair para não deixar o medo tomar conta. Eu estava certo de que dormiríamos no rio principalmente depois que o piloto contou que não seria a primeira vez que ele faria isso, mas acabamos convecendo-o a seguir viagem depois que a chuva parou.
16 de janeiro - segunda-feira (Igarapés)
Mayume havia me dito que muitos moradores nas margens dos igarapés já tinham sido procurados pela NESA e eu estava interessado em conhecê-los. Caminho pela região até avistar uma casa simples de alvenaria com um poster da NESA pendurado na parede. A porta está aberta e algumas pessoas assistem tv. Peço pra fotografar o cartaz. Uma senhora aparece na porta e me oferece para entrar. Aceito e pergunto se alguém da NESA já tinha vindo visitá-la. Ela diz que sim, que disseram que não teria que deixar a casa porque o nível água só chegaria até seu quintal e que eles seriam indenizados proporcionalmente a perda. Acho muito estrando que eles não terão que deixar a casa com água praticamente na porta e peço para ver o jardim. Nos fundos da casa posso ver palafitas ainda mais próximas ao igarapé. A senhora não conhece ninguém que mora por ali, mas me explica como chegar. Agradeço, me despeço e ando até a tal rua.
Logo que chego na rua sou abordado por um homem me oferecendo drogas. Recuso assustado. Ele muda de postura e me pede dinheiro pra pinga. Ainda assustado aceito dou uns trocados para ele que muda totalmente de expressão, me abraça e me agradece. Me sentindo como se houvesse vendido minha alma peço para conhecer sua casa. Ele me conta que técnicos da NESA vieram visitá-la e que dentre as três possibilidades ele prefere uma casa nova.
17 de janeiro - terça-feira (Lucimar)
De novo os advogados nos oferecem uma carona. Desta vez há somente um lugar e decidimos que eu iria. Entro numa caminhonete com destino as terra de Lucimar, ou Lúcio como é conhecido. Lúcio é um pequeno agricultor que mora bem perto do sítio Canais e Diques, perto suficiente para se incomodar muito com as explosões diárias na construção.
Entramos no travessão do 27 e poucos quilometros depois o carro pifa. Chamamos um novo carro e enquanto esperamos converso com o motorista. Filho de colonos vindos para Altamira, como muitos nessa época, em busca da "terra sem gente" a beira da recém construída Transamazônica. Hoje é aposentado e faz bicos como motorista e não gostaria que a usina fosse construída. A cidade está mais cara e violenta que antes.
O novo carro chega e seguimos viagem. Depois de nos perdermos um pouco chegamos a casa do Lúcio e somos super bem recebidos por sua esposa que nos serve uma deliciosa comida. A essa altura já não estou muito atento mais à entrevista que a advogada faz com o Lúcio, mas aprendo que a indenização aos agricultores depende muito das benfeitorias feitas no terreno. A NESA tem uma tabela de valor por benfeitoria e decorei que eles pagam R$4,00 por pé de goiaba. Lúcio possui um lote nessa região quase todo coberto por pasto que não tem quase nenhum valor pela tabela da NESA.
18 de janeiro - quarta-feira (De Volta a Ensecadeira)
Saímos em duas voadeiras cheias com trinta pessoas ao todo para um ato na ensecadeira. Além das duas voadeiras uma terceira nos acompanhava trazendo jornalistas da tv prelazia e da rede tv, além do Ruy e do João. Seguimos até a casa de uma família ribeirinha aonde pintamos nossas caras e ensaiamos algumas palavras de ordem.
Atracamos na ensecadeira gritando "1, 2, 3, 4, 5 mil ou para Belo Monte ou paramos o Brasil" e estendemos uma faxia escrita "Belo Monte: aqui tem crime do governo federal". Como a faixa de 40 metros era bem maior do que a largura da ensecadeira ela separou três caminhões do resto dos tratores e funcionários. Um funcionário veio pedir para darmos passagem aos caminhões, mas foi interrompido pelo grito de uma estudante "Não devemos satisfação para Norte Energia". Isolados os motoristas dos caminhões desceram e se juntaram aos demais funcionarios do outro lado da faixa. Pintamos os caminhões e tratores de vermelho simbolizando o sangue nas mãos das construtoras, voltamos às voadeiras e atracamos na outra margem. Lá estendemos novamente a faixa e atiramos bexigas com tinta nos tratores. Voltamos muito satisfeitos e eufóricos. Nem a forte chuva impediu um delicioso banho de rio.
19 de janeiro - quinta-feira (UFPA)
A sala de aula estava mais ou menos cheia e o último grupo que se apresentou dissertou sobre um dos capítulos de "Por uma outra globalização", texto de Milton Santos um clássico nos cursos de geografia. O próximo grupo a se apresentar era o que aguardávamos. Eles haviam pedido para trocar de tema e contariam sobre o ato do dia anterior. O professor Marcel lecionava na sala ao lado que é convidada a assistir a apresentação.
Agora a sala está lotada. Entra pela porta a professora Netinha e aproveita a ocasião para apresentar sua chapa para algum cargo dentro da universidade (seria direção?). Assistimos a um acalorado debate político que nos animou bastante. Depois que Netinha se despediu toda a sala assistiu atentamente a apresentação de nossos companheiros de ato. O entusiasmado professor concedeu-nos a fala e me lembro de ter falado brevemente sobre a praxis.
20 de janeiro - sexta-feira (Despedida)
Diante do "rio caudaloso de águas verde esmeralda" me despeço do Xingu me perguntando se terei a oportunidade de vê-lo vivo novamente. A tensão quando quase tivemos que dormir atracados em sua margem e o mergulho eufórico debaixo de muita chuva após o bem sucedido ato são agora lembranças um pouco amargas de um passado recente. Até quando a amazônia servirá de colônia energética do Brasil vendendo barato o destino de seus povos e suas florestas? Até quando o Brasil se sujeitará a vender energia em forma de malditas placas alumínio? Pra que tanto alumínio? Até quando o mundo insistirá nesse modelo de desenvolvimento?
Dou as costas para o rio e vou me juntar a meus amigos. No caminho uma boa surpresa, vejo um estêncil com dizeres contra belo monte. Começo a reparar que outros lugares também estão pixados. Tento me recordar e não me lembro de tê-los visto antes. Sigo meu caminho visivelmente mais esperançoso pensando que afinal ainda há resistência.
21 de janeiro - sábado (Tucuruí)
Nossa viagem de volta começou mais fácil do que pensávamos. Assim que descemos do taxi do Celso em um posto de gasolina na saída para a Transamazônica a Ju conseguiu uma carona para dois até Tucuruí. Entrei com ela no carro. Os outros conseguiriam carona por volta de uma hora depois. O motorista que morava em Tucuruí e alugava maquinas pra CCBM não estava muito para papo. Só se soltou durante um brevíssimo instante em que perguntamos se ele gostava de bacaba. Como gostava, mas bacaba, dizia ele, não é fácil de achar. Bacaba se colhe e se prepara com família e amigos.
Chegamos as três da tarde em Tucuruí e consideramos a possibilidade de continuar direto para Belém. Decidimos ficar. Seria interessante conhecer a usina tema do livro do Lúcio Flávio. Nossa carona nos deixou próximo a vila dos funcionários da Eletronorte - uma espécie de condomínio bastante afastado do resto da cidade. De lá pegamos uma outra carona até o centro. Fomos direto para a igreja da cidade e conseguimos abrigo com uma senhora de bom coração que ofereceu dois quartos para nós: um na casa dela e um na de sua irmã.
22 de janeiro - domingo (De Volta a Belém)
A primeira carona do dia até a saída da cidade foi fácil de conseguir. O simpático motorista se dispos inclusive a parar uns minutos sobre a barragem para tirarmos fotos. O cenário, como disse João Rafa, remete a um horrendo deserto de água cortado por enormes cabos de força por todos os lados. Até hoje, dizia ele, há protestos por aqui. São principalmente moradores de Novo Repartimento e Breu Branco que reivindicam indenizações prometidas.
A segunda carona veio rápido também e logo estávamos em Goianésia. Esperamos quase uma hora até conseguirmos a primeira carona para dois. Alguns minutos depois eu e a Di embarcamos em um enorme caminhão bi-trem que transportava dezenas de toneladas de cobre trazido de Carajás. Em Tailandia conseguimos a última carona em um Polo que nos deixou em Belém. Encontramos o Peixe e o Derek, membros do Comitê Metropolitano pelo Xingu Vivo (CMXV), que a pedidos do Ruy arrumaram um lugar para passarmos a noite.
23 de janeiro - segunda-feira (Lúcio Flávio)
Logo de manhã nos separamos mais uma vez. Diana foi visitar a avó e os demais fomos a uma reunião de um grupo de jovens ligados a CMXV. Eles tinham recebido com muita alegria notícia do ato na ensecadeira e estavam muito felizes com nossa presença. Tivemos de sair no meio da reunião, pois havíamos marcado uma conversa com Lúcio Flávio a tarde, mas voltaríamos a encontrá-los a noite para umas cervejinhas no mesmo bar em que conheci Cal.
Quando entrei na residência de Lúcio Flávio senti um certo desconforto. O cabelo recém cortado da Ju, as roupas rasgadas do João, minha aparência suja e nossos pés descalços distoavamos muito da casa e da aparência de um senhor de 60 anos. Acostumado a apresentar o ocupasampa àqueles que conheci na rua, gaguejei muito tentando explicar quem éramos e o que fazíamos ali e só consegui com ajuda do João. O desconforto acabou na hora que Lúcio começou a falar. Ficamos bem a vontade durante mais de uma hora ouvindo-o falar sobre Belo Monte sempre com informações precisas e apoiadas por muitos números. Segundo ele a grande questão em Belo Monte não é ambiental, tampouco indígena, mas econômica. O projeto havia sofrido tantas alterações que já não era economicamente viável. Pergunto sobre a possibilidade de se construirem outras usinas ao longo do Xingu e ele responde categoricamente: não há a menor dúvida de que serão construídas. Lúcio pensa muito em termos da região amazônica e grande parte de sua argumentação é sobre como a usina não trará desenvolvimento para região. A amazônia, diz ele, era a última esperança de desenvolvimento de uma civilização florestal em contraposição a uma civilização agrícola.
24 de janeiro - terça-feira (Viagem de Volta)
No últimos dia de viagem resolvemos fazer um passeio turístico. Depois de um delicioso almoço na casa das queridíssimas irmãs Lanna e Luana fomos ao museu Goeldi. Tirei um pequeno cochilo encarando uma maginifica onça pintada que estava claramente incomodada com a jaula. A tarde compramos polpas diversas para trazer para casa: taperebá, cupuaçu, muruci, bacuri, açaí... A noite fomos a uma reunião do CMXV e nos apresentamos. Fizemos muitos amigos ali que espero reencontrar em breve.
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