A Cultura Viva e os Pontos de Cultura foram uma das poucas ações que buscaram resgatar a Cultura Popular Tradicional brasileira, uma cultura pouco conhecida, que nunca teve espaço na mídia, nunca foi enlatada e vendida em cada esquina. Uma cultura brasileira de fato, que vinha sendo esquecida, histórias contadas pelas avós (e avôs), perpetuada na tradição oral, com pouco ou nenhum registro material da sua existência. Uma cultura que faz parte de nossa identidade, que é a gente, uma cultura fora dos centros, das grandes cidades.
O que vemos acontecer sobre nossos olhos é o desmantelamento de uma das ações mais bonitas e ricas quem um governo já implementou na história da cultura brasileira. Uma ação conjunta, sinérgica, sem intervenção que não cometia o erro de simplesmente registrar o fato simples e puro, mas que dava acesso às ferramentas, que mostrava o valor da apropriação destas a aqueles que de fato agem e produzem cultura.
Estas ferramentas são instrumentos para que estes atores sociais, artistas, mestres da cultura popular possam registrar sua cultura, com seu olhar e seu desejo e para que possam transformar e evoluir o seu sentimento sobre sua propria identidade. Identidade que junta, mixada, remexida e revista faz de todos nós o que somos, brasileiros sem igual pois somos todos um pouco de tudo desta cultura.
Deixar o povo brasileiro sem a oportunidade de conhecer as suas raízes e a sua identidade é erro sem igual. É um crime contra nossa brasilidade, contra a humanidade. Quando o último mestre griô se for, quem irá nos contar a nossa história, sem vencedores, sem vencidos. Quando o último ribeirinha for tragado pelo lago artificial do progresso sem sentido não mais teremos lendas a celebrar e relembrar.
No movimento sinérgico de reconstrução do próprio olhar sobre a cultura popular brasileira, a Cultura Viva com seu movimento Cultura Digital possibilitou a quase perfeita integração entre Tecnologia e Cultura. Os preceitos do Software Livre se encontraram com a Cultura Popular na expressão do desejo de compartilhar e contribuir. O Software deve ser livre porque surge da troca constantes de ideias, a expressão do conhecimento aplicado deve ser livre porque do conhecimento nasce o conhecimento. O conhecimento não é mais encarado como produto e sim como meio e produção. Cultura se cultiva, planta-se uma ideia que florece em arte, em expressão do desejo humano. Software, é expressão de conhecimento, é cultura. Software Livre é cultura popular, é expressão do desejo humano de contribuir para com seus pares.
Tal qual o sertanejo, o ponto de cultura é, antes de tudo, um forte. Mas a sua própria sorte não pode ser deixado ou estaremos abandonando a nossa própria identidade. Deixaremos de lado histórias que compoem nosso imaginário e num futuro não tão distante olharemos para trás e serão apenas memórias borradas.
Viva a Cultura Viva, Viva os Pontos de Cultura
10 de Novembro de 2011, 0:00 - sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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