Este é um clone do blog de Alexandre Oliva, Blongando por Liberdade
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1 de Março de 2010, 0:00 - sem comentários aindaAh!, a Falta que Ela Faz
Alexandre Oliva <lxoliva@fsfla.org>
Publicado na décima-primeira edição, de fevereiro de 2010, da Revista Espírito Livre.
Uma porção de gente já ficou sabendo que, em pleno Carnaval, decidi interromper um longo relacionamento. Pra quem não viu, segue cópia da carta aberta que escrevi para quem me traiu minha confiança:
Caro Google,
Estamos juntos há vários anos, mas devo dizer que ultimamente vinha pensando cada vez mais em romper com você. Sua recente traição pública me fez decidir que não quero mais estar envolvido com você. Entendo que seja Dia de São Valentim, que é dia dos namorados no seu país de origem, e também Carnaval, mas... o que você esperava que eu fizesse? Confiança é algo que se constrói com dificuldade ao longo de anos, mas se perde numa fração de segundo.
Faz tempo que lhe dou acesso a algumas partes íntimas da minha vida. No começo, eram só arquivos de listas públicas. Aí, você me ajudou a manter contato com amigos que de outra forma eu talvez nunca mais encontrasse. Aí você começou a escutar minhas conversas, mas até isso era mais ou menos ok, pois eu tinha aceitado, não tinha? Você sempre disse que eu podia confiar em você, e eu confiei. Não parecia que você iria compartilhar a informação particular que eu compartilhei com você, então a confiança foi aumentando ao longo dos anos.
Mas outro dia conheci um lado seu que não conhecia, dizendo na TV o quanto você valorizava a privacidade: que se havia alguma coisa que eu não quisesse que ninguém soubesse, eu não deveria fazer essa coisa. Ainda assim, achei que fosse um simples engano seu, e que eu ainda podia confiar em você, então eu continuei com você.
E aí o Buzz me atingiu. Foi demais pra mim.
Até onde sei, não dependo de minha privacidade neste momento para minha segurança física, como Harriet Jacobs, ou para o desempenho de meu trabalho, como jornalistas que tiveram suas fontes expostas quando Buzz foi empurrado para cima deles.
Mas, assim como confiança, privacidade é algo que custa dedicação ao longo de anos, e um pequeno erro desfaz um monte de trabalho duro. Não quero esperar pelo dia em que eu perceba que preciso de minha privacidade de volta.
Google, perdi a confiança que tinha depositado em você, mas não acho que seja tarde demais para eu evitar perder também minha privacidade. Estou fechando nossas contas conjuntas, esvaziando as gavetas que você reservou para mim no seu closet, destruindo as chaves depois de trancar as portas, e não vou lhe deixar mais acessar minhas partes íntimas.
Também estou dizendo a todos os nossos amigos que eu terminei com você, e por quê. Também vou convidá-los a se manterem em contato comigo através de outros meios.
Para mensagens instantâneas, podem chegar a mim em lxoliva@jabber.org e lxoliva@jabber-br.org. Mesmo aqueles que escolham continuar com você podem registrar esse endereço alternativo no GTalk, ainda que eu preferiria que se registrassem em jabber.org usando alguma implementação em Software Livre do protocolo de mensageria instantânea XMPP adotado pelo GTalk, como o Pidgin.
Para redes sociais, vou continuar com a rede do PSL-Brasil, que roda Noosfero, e gNewBook, construído sobre elgg. Não se preocupe, Google, não vou entrar no Facebook, seria pelo menos tão burro quanto continuar no Orkut.
Para microblogging, continuo no identi.ca, que roda StatusNet.
Pidgin, Noosfero, elgg e StatusNet são todos Software Livre. Eles respeitam as liberdades essenciais de seus usuários, inclusive usuários através da rede. Eu sei que tenho direito de compartilhá-los com meus amigos, adaptá-los para minhas necessidades, instalar minhas próprias cópias e configurar minhas próprias redes interoperáveis se eu quiser, e muito mais. Ao contrário de outros serviços de microblogging, redes sociais e mensagens instantâneas. E, ainda por cima, estou amando desenvolvedores deles.
Quanto a e-mail, uso lxoliva@fsfla.org para assuntos de Software Livre e oliva@lsd.ic.unicamp.br para outras coisas... E-mail é pra ser particular, então não recomendaria usar qualquer serviço de terceiros, mesmo que construído sobre Software Livre. Nao é difícil configurar seu próprio serviço de e-mail via web; eu mesmo administro os servidores dos dois endereços pessoais que uso. Não têm um exército de empregados seus por trás deles, mas dada a entrevista do funcionário do Facebook, um exército assim parece mais uma maldição que uma bênção.
Google, se precisar, você sabe onde me encontrar e, se não soubesse, há outros serviços de busca por aí que podem saber. O mesmo vale para todos os meus amigos. Vejo vocês por aí.
Até blogo,
Já faz quase um par de semanas que tomei a decisão e, olha... Uma coisa preciso reconhecer: foi bem fácil deixar tudo para trás.
Não me agrada entrar em relacionamentos de dependência, então eu já mantinha cópia local de todos os meus dados: mensagens, contatos, calendários, etc. Google sempre fez questão de me deixar manter essas coisas, abertamente, inclusive em formatos abertos livres, pra que, se um dia eu quisesse ir embora, eu não seria impedido. É uma atitude exemplar, digna de respeito e admiração, pois não se vê muito por aí.
Outra coisa que meio que me surpreendeu foi que eu continuei usando alguns serviços que não esbarravam em questões de privacidade. Busca e mapas foram os que eu percebi: podem ser usados anonimamente, uma vez removidos os biscoitinhos que Google continua me mandando, mas já não aceito mais.
Dos outros serviços, não senti falta. Pelo contrário: estou livre do ruído constante do Orkut, não preciso mais fazer controle duplo de Spam (e se alguém mandasse mensagem pro endereço do GMail e caísse na caixa de Spam da qual não tinha como receber cópia automática?), estou tranquilo que a caixa do GMail não vai lotar de novo, não preciso mais ver como fazer pra separar a parte particular da pública no meu calendário no ORG-Mode do GNU Emacs, nem tentar achar um jeito de alimentar o calendário do Google a partir dali.
O melhor de tudo é que ninguém mais fica pensando que eu passava o dia no Orkut, ou que eu usava a página do GMail carregada de Obfuscript, só porque o Pidgin se registrava com o GTalk. Como poderia sentir falta dessas coisas?
Mesmo assim, uma porção de gente achou o rompimento exagerado, questionando até se eu não estava usando dois pesos e duas medidas. Na verdade, minha política de evitar confiar informação pessoal a terceiros vem se aguçando há bastante tempo. Google era uma exceção, e deixou de ser, justamente porque já não mais me parece, digamos assim, boa companhia, em que se pode confiar.
Justamente pela espectativa excepcional senti minha confiança traída. Os problemas de privacidade no Facebook, que mencionei na carta, não me surpreenderam; estão mais para típicos que absurdos. Os acidentes que aconteceram no Google no passado, tipo quando gente começou a encontrar, através do serviço de busca, documentos particulares de terceiros armazenados no Google Docs, são parte do risco de deixar a informação nas mãos do outro, por mais responsáveis que sejam. Não dá pra qualificar um acidente desses como traição de confiança.
Mas o caso do Buzz foi diferente. Certamente não foi um acidente na linha daquele do Google Docs. “Fez falta, sim!”, talvez dissesse Arnaldo Cézar Coelho, “falta clara, pra cartão vermelho, muito bem marcada!” De fato, só vejo duas linhas de cenários possíveis que conduzem a essa falta.
Numa delas, algum funcionário, preocupado e responsável, chamou atenção pra questão de privacidade da publicação automática de contatos particulares no Buzz: além de ser um uso público inesperado de informação particular, levanta riscos para relacionamentos pessoais (já em risco, vá lá), para jornalistas e suas fontes anônimas, para ativistas de direitos humanos perseguidos por tiranos (não é irônico que, poucos dias após denunciar a invasão chinesa, Google torna pública a informação que os invasores buscavam?), e sabe lá pra quem mais. Aí, um gerente comercial mais preocupado em tentar ganhar espaço no imenso mercado de redes sociais, em que Google está atrás, descarta a objeção e vai em frente com o plano de construir a rede do dia para a noite com contatos particulares. Péssimo, né?
Noutro cenário, nenhuma das inteligentíssimas pessoas que trabalham para o Google e estavam envolvidas no projeto considerou nada disso. Honestamente, não sei qual das possibilidades é mais preocupante.
Não que eu tenha perdido alguma coisa. Eu era relativamente cuidadoso com as informações que disponibilizava pro Google. Porém, tendo pontos de contato públicos, eu acabava induzindo outras pessoas a compartilharem informação com Google, seja quando queriam entrar em contato comigo a respeito de assuntos pessoais, seja quando simplesmente seguiam o modelo que eu adotava, sem saber dos cuidados que eu tomava. Por isso, achei melhor dar um basta.
Além disso, talvez eu tenha mesmo tomado menos cuidado do que deveria, dadas as novas circunstâncias. Aliás, isso levanta um ponto importante. Tem gente que não está nem aí que seus contatos sejam públicos, e por isso minimiza o problema do Buzz. Mas será que se importaria se o conteúdo de suas conversas ou correios eletrônicos fosse exposto? Desta vez, a informação que Google publicou não lhes incomodaria, mas e da próxima? Quem pode saber que novas circunstâncias surgirão?
A política pode mudar de um instante para outro, como mudou com o Buzz. Apesar de vários dos problemas do Buzz terem sido corrigidos prontamente, a confiança de que essas questões seriam levadas a sério e tratadas adequadamente, de modo a evitar problemas, e sem precisar de protestos generalizados, já se foi. Pena.
Quem já achava que era uma questão de bom senso, que não cabia confiar no Google para questões tão sensíveis como integridade física, contatos com fontes anônimas, redes de combate a tirania, teria enfrentado minha discordância antes, pois eu via Google defendendo na justiça a privacidade até de prováveis pedófilos virtuais. Hoje, concordo: não dá pra confiar a privacidade ao Google, e tenho certeza de que Google já sabe muito bem a falta que a confiança faz.
Copyright 2010 Alexandre Oliva
Cópia literal, distribuição e publicação da íntegra deste artigo são permitidas em qualquer meio, em todo o mundo, desde que sejam preservadas a nota de copyright, a URL oficial do documento e esta nota de permissão.
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blogs/lxo/2010-02-14-bye-bye-google.pt
14 de Fevereiro de 2010, 0:00 - sem comentários aindaCaro Google,
Estamos juntos há vários anos, mas devo dizer que ultimamente vinha pensando cada vez mais em romper com você. Sua recente traição pública me fez decidir que não quero mais estar envolvido com você. Entendo que seja Dia de São Valentim, que é dia dos namorados no seu país de origem, e também Carnaval, mas... o que você esperava que eu fizesse? Confiança é algo que se constrói com dificuldade ao longo de anos, mas se perde numa fração de segundo.
Faz tempo que lhe dou acesso a algumas partes íntimas da minha vida. No começo, eram só arquivos de listas públicas. Aí, você me ajudou a manter contato com amigos que de outra forma eu talvez nunca mais encontrasse. Aí você começou a escutar minhas conversas, mas até isso era mais ou menos ok, pois eu tinha aceitado, não tinha? Você sempre disse que eu podia confiar em você, e eu confiei. Não parecia que você iria compartilhar a informação particular que eu compartilhei com você, então a confiança foi aumentando ao longo dos anos.
Mas outro dia conheci um lado seu que não conhecia, dizendo na TV o quanto você valorizava a privacidade: que se havia alguma coisa que eu não quisesse que ninguém soubesse, eu não deveria fazer essa coisa. Ainda assim, achei que fosse um simples engano seu, e que eu ainda podia confiar em você, então eu continuei com você.
E aí o Buzz me atingiu. Foi demais pra mim.
Até onde sei, não dependo de minha privacidade neste momento para minha segurança física, como Harriet Jacobs, ou para o desempenho de meu trabalho, como jornalistas que tiveram suas fontes expostas quando Buzz foi empurrado para cima deles.
Mas, assim como confiança, privacidade é algo que custa dedicação ao longo de anos, e um pequeno erro desfaz um monte de trabalho duro. Não quero esperar pelo dia em que eu perceba que preciso de minha privacidade de volta.
Google, perdi a confiança que tinha depositado em você, mas não acho que seja tarde demais para eu evitar perder também minha privacidade. Estou fechando nossas contas conjuntas, esvaziando as gavetas que você reservou para mim no seu closet, destruindo as chaves depois de trancar as portas, e não vou lhe deixar mais acessar minhas partes íntimas.
Também estou dizendo a todos os nossos amigos que eu terminei com você, e por quê. Também vou convidá-los a se manterem em contato comigo através de outros meios.
Para mensagens instantâneas, podem chegar a mim em lxoliva@jabber.org. Mesmo aqueles que escolham continuar com você podem registrar esse endereço alternativo no GTalk, ainda que eu preferiria que se registrassem em jabber.org usando alguma implementação em Software Livre do protocolo de mensageria instantânea XMPP adotado pelo GTalk, como o Pidgin.
Para redes sociais, vou continuar com a rede do PSL-Brasil, que roda Noosfero, e gNewBook, construído sobre elgg. Não se preocupe, Google, não vou entrar no Facebook, seria pelo menos tão burro quanto continuar no Orkut.
Para microblogging, continuo no identi.ca, que roda StatusNet.
Pidgin, Noosfero, elgg e StatusNet são todos Software Livre. Eles respeitam as liberdades essenciais de seus usuários, inclusive usuários através da rede. Eu sei que tenho direito de compartilhá-los com meus amigos, adaptá-los para minhas necessidades, instalar minhas próprias cópias e configurar minhas próprias redes interoperáveis se eu quiser, e muito mais. Ao contrário de outros serviços de microblogging, redes sociais e mensagens instantâneas. E, ainda por cima, estou amando desenvolvedores deles.
Quanto a e-mail, uso lxoliva@fsfla.org para assuntos de Software Livre e oliva@lsd.ic.unicamp.br para outras coisas... E-mail é pra ser particular, então não recomendaria usar qualquer serviço de terceiros, mesmo que construído sobre Software Livre. Nao é difícil configurar seu próprio serviço de e-mail via web; eu mesmo administro os servidores dos dois endereços pessoais que uso. Não têm um exército de empregados seus por trás deles, mas dada a entrevista do funcionário do Facebook, um exército assim parece mais uma maldição que uma bênção.
Google, se precisar, você sabe onde me encontrar e, se não soubesse, há outros serviços de busca por aí que podem saber. O mesmo vale para todos os meus amigos. Vejo vocês por aí.
Até blogo,
blogs/lxo/2010-02-14-bye-bye-google.en
14 de Fevereiro de 2010, 0:00 - sem comentários aindaDear Google,
We've been together for several years, but I must say I've thought of leaving you more and more often lately. Your recent public betrayal got me to decide I don't want to be involved with you any more. I realize it's Valentine's Day, and also Carnival, but... what did you expect me to do? Trust is something we work hard to build over the years, but lose in a split second.
I have long granted you access to some private parts of my life. At first, it was just archiving public mailing lists. Then, you helped me keep in touch with friends that I might otherwise never see again. Then you started listening on my conversations, but even that was sort of ok, for I had agreed with it, hadn't I? You always said I could trust you, and I did. It didn't look like you'd share the private information I shared with you, so trust built over the years.
But the other day I met a side of yours I didn't know, saying on TV how much you valued privacy: that if there was something I didn't want anyone else to know, I shouldn't be doing it in the first place. Still, I thought that was a simple mistake of yours, and that I could still trust you, so I carried on with you.
And then Buzz hit me. That was too much.
As far as I know, I depend on my privacy right now for my physical safety, like Harriet Jacobs, or for the performance of my job, like journalists who had their sources exposed when Buzz was pushed upon them.
But, like trust, privacy is something that takes dedication over the years, and a single mistake will undo a lot of hard work. I don't want to wait for the day I realize I need my privacy back.
Google, I lost the trust I had in you, but I don't think it's too late for me to avoid losing also my privacy. I'm closing our shared accounts, I'm emptying the drawers you saved for me in your closet, I'm destroying the keys after locking the doors, and I won't grant you access to my private parts any more.
I'm also telling all my friends that I broke up with you, and why. I'll also invite them to keep in touch with me through other means.
For instant messaging, I'm reachable at lxoliva@jabber.org. Even those who choose to remain with you can register this alternate address in GTalk, although I'd much rather they registered at jabber.org using some Free Software implementation of the XMPP instant messaging protocol adopted by GTalk, like Pidgin.
For social networking, I'm sticking to the PSL-Brasil network, that runs Noosfero, and gNewBook, built upon elgg. Don't worry, Google, I'm not joining Facebook, that would be at least as stupid as remaining on Orkut.
For microblogging, I'm sticking to identi.ca, that runs the StatusNet.
Pidgin, Noosfero, elgg and StatusNet are all Free Software. They respect the essential freedoms of its users, even those users across the net. I know I'm entitled to share them with my friends, adapt them to my own needs, install my own copies and set up my own interoperable networks if I want to, and more. That's unlike other microblogging, social networking and instant messaging services. And, what's more, I'm in love with their developers.
As for e-mail, I use lxoliva@fsfla.org for Free Software matters and oliva@lsd.ic.unicamp.br for other stuff... E-mail is supposed to be private, so I wouldn't recommend using any third party service, even if it's built on Free Software. It's not hard to set up one's own web mail service; I manage myself the servers of both personal addresses I use. They don't have an army of your employees behind them, but given the Facebook employee interview, such an army sounds more like a curse than a blessing.
Google, if you need, you know where to find me and, if you didn't, there are other search engines out there that may know. The same goes to all of my friends. I'll see you all around.
So blong,
blogs/lxo/2010-01-31-agitos-de-janeiro.pt
1 de Fevereiro de 2010, 0:00 - sem comentários aindaNossa, nem acredito que janeiro já acabou!
A virada do ano foi uma loucura, tentando terminar um projeto super experimental no trabalho que era pra ter terminado antes do Natal. Terminei no mês deste mês, pra descobrir que a complexidade da implementação acabava prejudicando tanto a otimização pretendida no tempo de compilação que não valia a pena o esforço. Ainda estou pra tentar tirar algo de útil desse um mês de trabalho violento...
Depois disso, entrei em férias, e, salvo correções ocasionais de regressões que introduzi no GCC com o projeto que pretendia otimizar, tenho trabalhado no Linux-libre. Além de uma nova imagem mostrada no boot e na página de rosto do projeto, que reusa, no símbolo de %, a barra de GNU/Linux-libre, para embutir as imagens do GNU e do Freedo no texto 100% Freedom, consegui dobrar a velocidade e reduzir em 10 vezes o consumo de memória do script deblob-check, o que mais consome recursos no processo de limpeza e liberação do Linux. E ainda há ainda mais melhorias no mapa! Viva!
Também estreei a série Mitologia Grega na Revista Espírito Livre, com um artigo que faz um paralelo entre rituais não inteiramente desvendados praticados na Grécia antiga e o uso de software privativo e secreto para enviar declarações de ofe-rendas ao Leão de Neméia. Foi divertido escrever, espero que fique agradável de ler e, mais importante, que mostre cabalmente o quão insensatos são os argumentos sustentados pela Realeza Fiscal, err, Receita Federal, para não liberar o IRPF2010. O artigo elabora alguns dos temas que enviei como relatório de problemas encontrados na versão de testes do IRPF2010, publicada e já tirada do ar pela RF.
Ainda deu tempo de dar uma passadinha no Campus Party Brasil, na quarta-feira 26, pra participar de uma mesa redonda sobre direito autoral no Campus Fórum, enquanto assistia no telão ao lado notícias sobre o lançamento, no mesmo dia, do computador com mais restrições artificiais já lançado até hoje, um exemplo que espero que não seja jamais imitado ou superado. Campus Party definitivamente não é um evento de Software Livre :-(
Fui abençoado pelo tempo no dia da viagem. Embora chuvoso, não trouxe caos ao trânsito de Sampa nem na ida nem na volta. Quase fez parecer que não há incompatibilidade entre vida inteligente e uso de automóveis em São Paulo. Noticiários sobre a véspera e o dia seguinte lembraram que a impressão foi “nuvem passageira, que com o vento se vai” (quem lembra da música?) Nessa altura, já dava pra mudar o nome da cidade pra Rios de Janeiro, porque, pelas negociatas da dupla chuchu serrado, parece que o problema não tem solução à vista. Ou, no caso, tudo aponta para que a cidade seja uma imensa solução pouco salina, mas com alta concentração de catástrofes. “Chove, chuva, chove sem parar...” já encheu, por assim dizer.
Lá no Campus Party, Larissa se divertiu bastante passeando com o GNU e dançando no Sound Walk. No debate, defendi a extinção do direito autoral, posição pessoal que já venho defendendo em artigos como Nem Tudo Vale a Pena, escrito para o blog coletivo Trezentos e para o MegaNão ao AI-5.0, e Repartindo o Bolo Direito, escrito para o SENAED 2009.
Lamento ter esquecido de esclarecer que se trata de posição pessoal, não necessariamente promovida ou defendida pela FSFLA, e não ter podido abordar o copyleft (tanto o da GPL, da defesa das liberdades do Software Livre, quanto o “tudo pode” que alguns entendem por esse termo, especialmente nos meios da Cultura Livre) e como ele se encaixa nessa minha posição. Fica pra outra ;-)
Não posso fechar o mês sem comentar um dilema, uma aparente contradição me atormentou nesse mês, após algumas discussões filosóficas bem interessantes no micro-blog identi.ca: a defesa de RMS à prática de venda de licenças permissivas para software liberado sob copyleft, com argumentos que me pareceram bastante familiares, mas nem por isso menos brilhantes, contrastada com a rejeição da prática de alguns usuários de aceitar e defender, a título de liberdade de escolha, a aceitação de restrições que fazem o software privativo e os usuários vítimas, qualificando essa aceitação, com as consequências que traz, como invasão da liberdade do próximo.
De um lado, parecemos não fazer questão que alguns utilizem seu poder (no caso, direito autoral) para evitar que agressores causem danos a toda a sociedade; de outro, fazemos questão que as vítimas usem seu poder (no caso, o poder de compra) para se levantar contra os agressores para evitar que agressores causem danos a toda a sociedade. Fiquei um tempão procurando razão para a diferença, considerando inclusive as possibilidades de que alguma das duas posições seja incorreta. Esta noite finalmente vi uma luz nessa aparente contradição, mas ainda não estou pronto para documentar minhas conclusões. Provavelmente vou escrever um artigo a respeito. Quem tiver pensamentos para compartilhar a respeito, fique à vontade para usar o espaço de discussão desta postagem no meu blog, mantido gentilmente pela FSFLA em seu site.
Ufa! Foi tanta coisa que já não me surpreende mais que o mês tenha parecido passar voando! Como dizia aquele senhor na propaganda do banco: “Esse Bamerindus!...” E já nem existe mais Bamerindus. Nem a poupança que meu avô abriu lá quando nasci. Aproveitei as férias para transferir para outro banco, depois de descobrir que a agência em que ela ficava também não existia mais. O HSBC só esqueceu de me avisar... Perdeu o cliente.
Um que quase perdeu o cliente foi a NET. Parecia brincadeira. O Virtua e o NET-Fone vinham me atendendo relativamente bem, até o meio do mês. Começou ali um Cai-não-Cai que não aguentei: depois da terceira queda no período de uma semana, justamente em meu horário de trabalho, perdi a paciência depois que dois atendentes desligaram na minha cara pra não me dizer o que é que estava acontecendo na região que estava precisando de tanta manutenção programanda, e quanto é que isso ia acabar e o serviço ia voltar ao normal. Quando voltou o serviço, abri chamado junto à ouvidoria da NET. Acho que era um domingo de madrugada. Detalhe: no sábado, tinham ligado numa pesquisa de opinião da NET para perguntar o que eu estava achando dos serviços. Já manifestei meu descontentamento ali, mas a ouvidoria ouviu (ou, no caso, leu) mais. Retornou na segunda à tarde, estornando a cobrança dos dias sem serviço e prometendo que o problema não ocorreria mais. Ãrrã. Caiu de novo na terça de madrugada. Liguei outra vez, “ganhei” desconto de mais um dia (pra não receber o serviço e não pagar por ele, não precisava de contrato, né?) e cobrei uma explicação, que (surpresa!) não veio. Engraçado como eles fazem manutenções emergenciais programadas (?!?), como substituição de cabos, justamente depois de a ouvidoria dizer que não estava tudo bem. Patético mesmo era o atendente e o sistema de atendimento eletrônico insistirem que minha região continuava sem sinal de Internet e de telefone e que ficaria assim até as 13h, quando eu estava usando o telefone alegadamente sem sinal para fazer a chamada às 3h. Doh! Ah, e claro que essa não foi a última vez que deu problema. Na noite seguinte, mais uma interrupção, mas depois parece que tomaram jeito. Mas juro que vou olhar pras outras opções de Internet Banda Larga da região onde moro.
Ah, e teve outro episódio de relevância para defesa ao consumidor este mês. Em outubro de 2008, comprei um computador portátil da Amazon PC no Submarino. Ingênuo, eu, achando que, tratando-se de fabricante nacional, seria mais fácil exigir ressarcimento pelo sistema operacional vendido casado com o hardware que eu queria, e conseguir eventuais correções de eventuais defeitos encontrados na programação básica do sistema. Tudo ilusão. Vinha cheio de defeitos na BIOS, que inviabilizavam a operação do GNU/Linux na máquina (embora a AmazonPC alegadamente comercializasse o computador também com GNU/Linux pré-instalado).
A máquina ficou, no total, uns 8 meses na autorizada, depois de eu passar um mês anotando os problemas dela e ter tirado de lá umas duas vezes pra ver se conseguia contornar os problemas, e uma última para reunir provas para usar em eventual processo judicial. Tipo, nem a resolução da tela tinha vindo igual ao anúncio!
Os infinitos contatos com o atendimento do Submarino sempre acabavam em conexão interrompida, promessa de retorno que não ocorria, ou exigência de laudo condenatório emitido pela autorizada, cujo dono, meu amigo, dizia que a fábrica o proibia de emitir.
Precisou meu advogado mandar uma carta pra ouvidoria do Submarino, cancelando a compra e exigindo a devolução do valor pago, notificando que entraríamos com processo por crimes contra o consumidor (venda casada, negação de serviço de garantia e falta de prestação de informações a respeito do produto) pedindo não só o dinheiro de volta, mas indenizações por danos morais e outras despesas incorridas, para o Submarino se mexer. A ouvidoria entrou em contato poucos dias antes de a venda completar um ano. Agendou a retirada do equipamento e mandou carta pra operadora do cartão de crédito para estornar a venda, dizendo que o crédito poderia demorar até duas faturas. Chegou a terceira fatura, e nada. A operadora negava ter recebido a carta. A ouvidoria me ouviu de novo, descobriu que a carta foi enviada tarde demais (o limite é 90 dias após a transação, vou fingir que acredito que o Submarino não sabia que mandá-la um ano depois não teria efeito algum), e prometeu fazer um DOC para uma conta à minha escolha, com o valor pago, até o final do mês. E não é que fez, mesmo?
Chato é que, com isso tudo, não consegui, como pretendia, questionar a venda casada e obter ressarcimento somente pela licença do Windows que acompanhava a máquina (pelos preços e pelos termos de garantia, que praticamente vedavam a substituição do sistema, parecia que na verdade era uma máquina que acompanhava um Windows). A máquina era tão problemática que não havia condições de ficar com ela. Mas morri com a despesa dos vários acessórios que comprei pra tentar fazer a máquina funcionar direito, além das horas de trabalho perdidas brigando com a máquina e com os atendentes do Submarino e da AmazonPC. Felizmente, acabou!
Nossa!, já é fevereiro fazem umas 5 horas! Vou ficando por aqui!
Até blogo...
Mitologia Grega: Mistérios de e-Lêusis
1 de Fevereiro de 2010, 0:00 - sem comentários aindaMitologia Grega: Mistérios de e-Lêusis
Alexandre Oliva <lxoliva@fsfla.org>
Publicado na décima edição, de janeiro de 2010, da Revista Espírito Livre.
Para quem não programa computadores, as linguagens parecem grego. Influências e-litistas se aproveitam do prevalente analfabetismo digital (anunzerismo?) para estabelecer mitos diversos, que se sustentam em crendices populares a despeito das incompatibilidades com a ciência e-lênica. Restam a nós, devidamente unzerizados e movidos pela ética do respeito ao próximo, os doze trabalhos, entre eles os de limpar a barra de nossa ciência (pra não falar dos currais do rei Aúgias) e de enfrentar as feras que aterrorizam a população, como a Hidra de Lerna, o Javali de Erimanto e a mais apavorante das criaturas, o Leão da Realeza Fiscal de Neméia.
A planície do Peloponeso habitada pelo Leão fica a meio caminho entre Atenas e Esparta, uma famosa pelo espírito guerreiro agressivo, a outra berço da democracia, devendo seu nome à deusa da sabedoria. Lamentavelmente, os princípios democráticos da capital parecem não ter chegado à terra do Leão. Carente tanto da estratégia espartana quanto da sabedoria ateniense, os monarcas da Realeza Fiscal cultuam práticas ocultistas Mitikas e, do alto de seu empinado Olimpo imaginário, impõem seus caprichos aos mortais, de forma ofensiva à democracia e à liberdade, em flagrante descompasso com o lema nacional helênico: “Liberdade ou Morte”.
Os Mistérios de e-Lêusis são rituais ainda não completamente desvendados, executados entre março e abril, ao final do inverno grego. Enquanto alguns estudiosos sustentam que são conduzidos para agradar as deusas da agricultura, para que proporcionem boas colheitas na Fazenda, outros afirmam que as ofe-rendas visam a apaziguar o Leão. Crê a Realeza Fiscal que as instruções dos rituais, em grego acessível aos alfabetizados, devem permanecer exclusivamente nas mãos de seus sacerdotes, pois só o segredo sobre elas garantiria o retorno seguro de Perséfone à Fazenda, ou das ofe-rendas ao Leão. Mitos!
A grande preocupação manifestada pela Realeza Fiscal é a falsificação dos .jarros com papiros que trazem as Instruções para Rituais de Preparação e Frete (IRPF) de ofe-rendas, compiladas num javanês críptico, difícil de entender mesmo para gregos iniciados, mas que os sacerdotes garantem que, executados pelos intérpretes javaneses recomendados, produzirão o efeito divino almejado pela RF.
Não têm os mortais como saber se os rituais que executam são de fato os impostos pela RF, pois nada nos .jarros autentica a origem das instruções. É fácil fabricar .jarros semelhantes aos fornecidos pela RF, porém com instruções totalmente diferentes, que possam até deixar os intérpretes possuídos por espíritos maléficos. Mesmo que mortais percebam a adulteração rapidamente, o dano já estaria feito.
Por mais que a RF mistifique o javanês, é evidente que publicar as instruções em grego em nada aumentaria ou reduziria esses riscos. A solução é permitir aos mortais autenticar a origem das instruções, conforme os preceitos da ciência e da tecnologia e-lênica: Hellas Tēle Trans Porte Seguro (HTTPS) e assinaturas confiáveis baseadas em Spartan-Hellenic Authentication (SHA) e criptografia assimétrica.
Teme a RF também a adulteração pontual das instruções. Segundo mitos e crendices da RF, publicar as instruções somente em javanês críptico evita esse risco. Enganam-se! Há muitíssimos falantes fluentes de javanês, capazes de compreender o suficiente das instruções crípticas a ponto de adulterá-las para que se dirijam as ofe-rendas a outras divindades, ou até mesmo a outros mortais, sem que os ofertantes sequer percebam. O risco existe com ou sem instruções em grego.
A adulteração não requer nem a tradução de todo o javanês críptico para grego, como fez uma vez este que vos escreve; basta conhecer algumas palavras chaves de javanês, encontrá-las no papiro e fazer as pequenas alterações, adicionando outros papiros conforme necessário. Para dar segurança ao mortal, são necessários meios para autenticar a origem das instruções. Poder ler as instruções em grego, ao invés de aumentar o risco, o reduz, pois ao menos os alfabetizados poderiam notar divergências.
Mas e a segurança da Realeza Fiscal? Com as instruções em grego, mortais poderiam alterar os procedimentos em benefício próprio, reduzindo as ofe-rendas para o Leão! Sem as instruções em grego, ao contrário dos mitos cultuados pelos monarcas, também. É não só possível como fácil. Este que vos escreve sabe como zerar o valor da ofe-renda anual, alterando apenas uma letra nas instruções em javanês. Mas funciona, mesmo? Claro que não, nem poderia!
O Leão, que recebe as ofe-rendas, não supõe que os cálculos foram feitos conforme suas exigências, assim como não o fazia quando os recebia em papiro. Se o fizesse, privilegiaria indevidamente os iniciados, os falantes de javanês e os suficientemente abastados para contratá-los. O sistema da RF é construído de forma a verificar o cumprimento das exigências legais, após a entrega das ofe-rendas. Por isso mesmo, a facilitação de adulteração das instruções, propiciada por instruções em grego, não aumentaria o risco para os monarcas: se o aumentasse, mortais já estariam adulterando as instruções em javanês e negando as ofe-rendas ao Leão.
De outro lado, aqueles que quiserem se certificar de que as ofe-rendas que entregam, discriminadas também em idioma desconhecido, cumprem suas obrigações fiscais, não podem, ainda que sejam responsabilizáveis e puníveis caso desviem da lei. Nega-se aos mortais essa segurança, mediante desrespeito ao princípio democrático e constitucional da transparência. Se o respeito representasse algum risco, as instruções em grego disponibilizadas por este que vos escreve, traduzidas e atualizadas do javanês das instruções de anos anteriores, já haveriam materializado o risco, demandando ação corretiva imediata. Não houve, nem precisa haver: os riscos não têm relação alguma com o acesso às instruções em grego, senão com a falta de outras medidas.
Como justificar, então, que os mortais não possam sequer cumprir o dever democrático de fiscalizar a RF e seus sacerdotes, verificando se os rituais codificados nas instruções de fato cumprem o que demanda a lei? Para que pudessem fazê-lo, as instruções para os rituais precisariam ser publicadas também em grego. Mas não são. O que dizem, só Zeus sabe. Pelo amor de Afrodite, já Hera hora, Cronos!
Copyright 2010 Alexandre Oliva
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