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26 de Abril de 2010, 17:55 , por Recent files: blogs/lxo - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Entrevista com Richard Stallman e Brian Gough, do Projeto GNU

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Alexandre Oliva e Joo Fernando Costa Jnior

Publicado na dcima-terceira edio, de abril de 2010, no primeiro aniversrio da Revista Esprito Livre.

Nesta edio de aniversrio da Revista Esprito Livre, o bate-papo com Richard Stallman e Brian Gough, ambos do Projeto GNU. A conversa foi conduzida por Alexandre Oliva, colunista da Revista Esprito Livre e membro da Fundao Software Livre Amrica Latina.

Revista Esprito Livre: Por que o mundo precisava de um sistema operacional, digamos, gnu [em ingls, soa como novo] nos anos 80?

Richard M. Stallman: O mundo precisava de um sistema operacional em software livre porque no existia nenhum. Portanto, eu decidi escrever um. Tomei, ento, decises tcnicas: decidi seguir o desenho do Unix para torn-lo portvel, faz-lo compatvel com o Unix para que os usurios de Unix pudessem migrar para ele facilmente, e dar suporte a mquinas de 32 bits ou superiores, para evitar o trabalho extra de suportar pequenos espaos de endereamento.

REL: Que papis vocs desempenharam, ou desempenham, no projeto GNU e por quanto tempo?

RMS: Eu lancei o projeto GNU em 1983 e tenho sido seu lder (Chief GNUisance) desde ento. Entretanto, recentemente eu envolvi o Comit de Aconselhamento do GNU em algumas decises e espero que ele v tomando conta das tarefas de liderana do GNU no futuro.

Brian J. Gough: Minha funo principal na codificao como mantenedor da biblioteca numrica do GNU, a GSL, qual comecei a contribuir como desenvolvedor em 1996.

Mais recentemente, fui organizador de vrios "Encontros de Hackers GNU" que temos tido na Europa nos ltimos anos e neste ano nos EUA, na Conferncia LibrePlanet da FSF. Esses encontros so uma oportunidade para os que contribuem para o GNU possam se encontrar e discutir seu trabalho em pessoa – assim como olhar para frente e ver como poderemos responder s novas ameaas liberdade.

No ano passado eu me tornei membro do Comit de Aconselhamento do GNU que promove teleconferncias regulares para ajudar a coordenar alguns dos assuntos do dia-a-dia do projeto GNU, tais como organizar esses encontros, por isso tenho dispendido um bocado de tempo nisso, hoje em dia.

REL: A GNU GPL considerada como uma das contribuies mais importantes do projeto GNU, mas GNU engloba muito mais: um sistema operacional completamente Livre. O que o GNU anda aprontando hoje em dia, e do que os desenvolvedores do projeto GNU podem se orgulhar nos ltimos anos?

BJG: Tecnicamente, o projeto GNU focado hoje na melhoria do software existente, como o GCC e o Emacs, para mant-los atualizados com os novos desenvolvimentos, e naquelas reas onde precisamos de programas totalmente novos – os "Projetos de Alta Prioridade" (http://www.fsf.org/campaigns/priority.html) como o Gnash, o projeto do GNU para substituio do Flash; GNU PDF, que tem por objetivo ser uma implementao completa do padro PDF tanto para leitura, quanto para escrita. GNUstep est atingindo um alto nvel de compatibilidade com o framework Openstep (Cocoa) e ajudar as pessoas a escapar da plataforma privativa MacOS.

Tambm estamos encontrando novas reas onde o software livre pode ser melhorado – por exemplo, recentemente o projeto GNU lanou uma nova iniciativa de acessibilidade (http://www.gnu.org/accessibility/accessibility.html) para assegurar que pessoas com deficincia tenham a mesma liberdade que outros usurios do software livre. Atualmente, muitos programas livres no so acessveis, e queremos que todo programa GNU seja acessvel e todo desenvolvedor tenha a acessibilidade em mente quando fizer um programa.

Olhando para alguns anos atrs, o trabalho do GNU Classpath e das equipes do GCJ so exemplos notveis do valor do trabalho pela liberdade e da substituio de software no livre que as pessoas aceitam por estar disponvel sem custo. Quando o Java foi finalmente liberado como software livre pela Sun em 2006, ele estava sob a mesma licena do GNU Classpath e agora temos um ambiente Java completamente livre nos sistemas GNU/Linux (com o nome de IcedTea). O GNU Classpath foi um dos projetos de alta prioridade por esse motivo, por causa do problema de programas livres em Java terem de depender de implementaes no livres de Java, s quais RMS chamou a ateno l em 2004.

Voc mencionou a GPLv2 e, claro, houve uma grande atualizao da GNU GPL (General Public License, ou Licena Pblica Geral) para a GPL verso 3 em 2007, seguindo um processo de consulta pblica mundial envolvendo vrios projetos de software livre, empresas e especialistas em legislao. A atualizao tornou a licena mais fcil de ser usada pelos desenvolvedores e removeu incompatibilidades desnecessrias com outras licenas de software livre semelhantes. Ela tambm deu aos projetos de software livre novas protees de patentes de software e tentativas dos fabricantes de contornar as liberdades das licenas utilizando dispositivos bloqueados e DRM (Digital Restrictions Management, ou Gerncia Digital de Restries). Naquela poca, algumas pessoas viram pouca necessidade de protees adicionais, mas agora vemos a nova gerao de dispositivos de computao privativos que so completamente bloqueados e usam a DRM para restringir seus usurios. Portanto eu acho que aquelas protees da GPLv3 provaro ter sido visionrias e agora so mais importantes do que nunca. Eu encorajo todos que desenvolvem software livre a se atualizarem para a GPLv3, caso ainda no o tenham feito.

Olhando para o futuro, ns queremos assegurar que todos tenham liberdade ao usar a Internet. RMS falou recentemente a respeito dos perigos do "Software como Servio" na Conferncia LibrePlanet da FSF. http://www.gnu.org/philosophy/who-does-that-server-really-serve.html Se utilizamos servios privativos na Web para executar tarefas que poderamos fazer em nossos prprios computadores com software livre, abrimos mo de nossa liberdade – isso algo que devemos evitar.

Para tarefas como processamento de textos, podemos simplesmente utilizar um software livre em nossos computadores. Para tarefas que necessitarem de servidores, precisaremos de alternativas. Uma maneira ter software livre suficiente para que as pessoas possam ter seus prprios servidores em casa ou na sua organizao.

H alguns projetos GNU novos que comeam a oferecer tais softwares, como o GNU FM para compartilhamento de msica e o GNU Social para redes sociais – eles esto procurando por mais voluntrios. A licena para eles a GNU AGPL (Licena Pblica Geral Affero) – ela similar GPL mas, se algum roda um programa sob a AGPL num servidor Web e permite que outros o utilizem, eles devem permitir que outros baixem o cdigo fonte. O microblog identi.ca (agora conhecido como Status.net) outro exemplo de um servio popular sob a AGPL que voc pode baixar e rodar no seu prprio servidor.

Na verdade, o projeto GNU e a FSF tm oferecido servios livres utilizando a AGPL h um bom tempo atravs do servio de hospedagem de projetos Savannah, que est sob a AGPL. H atualmente mais de 3.200 projetos de software livre utilizando o Savannah e cerca de 50.000 usurios. O Savannah utiliza apenas software livre e h um link de download em todas as pginas, atravs do qual qualquer um pode baixar o cdigo fonte completo do site. Tambm existem oportunidades para voluntrios ajudarem no desenvolvimento do Savannah e trabalhar nas solicitaes de suporte.

REL: Apesar disso tudo, vrias pessoas sugerem que o projeto no mais relevante, porque reconhecem o GNU apenas pelas ferramentas de desenvolvimento e pela GNU GPL.

RMS: Quando as pessoas esto familiarizadas apenas com uma pequena parte daquilo que fazemos e pensam que no muito, o problema est na ignorncia delas, no nas nossas realizaes. No importa quanto bem faamos, no nos ajudar a ganhar apoio se as pessoas o atriburem a outros.

REL: Claro, mas deixar essa percepo errada se espalhar prejudica o GNU e o Movimento Software Livre. O que voc recomenda para tentar corrigi-la?

RMS: Alm de explicar esse ponto para as pessoas como parte da explicao a respeito do software livre, devemos oferecer nosso tempo, esforo e nomes para atividades que do crdito ao GNU. H vrias delas que podem utilizar nossa ajuda, portanto no faltaro coisas teis para fazer.

REL: O Linux e a maior parte das distribuies GNU/Linux incluem Software no-Livre, o que significa que eles no entendem, ou no compartilham das metas e da filosofia do Software Livre. O que o GNU e a FSF fazem a respeito dessa questo?

RMS: Recomendamos apenas distribuies que tm uma poltica firme de no encaminhar o usurio para o software no livre, e explicamos a razo tica para isso.

BJG: No stio do GNU na Internet existe uma lista de diretrizes que uma distribuio deve seguir para ser chamada de livre e encorajamos as pessoas a utilizar as distribuies que as seguem (as diretrizes esto em http://www.gnu.org/distros/ assim como uma lista das distribuies).

As diretrizes so bastante simples – o ponto principal que deve haver uma poltica clara de somente distribuir software livre, e que ela seja aplicada a todo pacote de maneira consistente, sem excees para "casos especiais".

Algumas distribuies tm uma poltica de utilizar apenas software livre, mas no a aplicam totalmente porque ignoram as "bolhas" de software no livre em alguns drivers de dispositivos no kernel Linux. Isso uma vergonha, porque seria fcil para eles dar a seus usurios uma distribuio 100% livre usando a verso Linux-libre do kernel que no as contm.

REL: Como algum se torna um desenvolvedor do GNU?

BJG: H muitas maneiras de contribuir para o GNU e ser um desenvolvedor apenas uma delas. Escrever documentao, contribuir com tradues, testar e auxiliar no Savannah.gnu.org, o stio de hospedagem do GNU, tambm so importantes. Existe uma pgina na web que explica as disferentes formas de se envolver com o projeto em http://www.gnu.org/help/help.html.

Para quem for muito dedicado, existe uma lista dos projetos de alta prioridade em http://www.fsf.org/campaigns/priority.html. A lista tem sido reduzida gradualmente – recentemente, dois brasileiros, Rodrigo Rodrigues da Silva e Felipe Sanches, tm feito bons progressos em um item destacado h muito tempo, uma biblioteca para converter arquivos salvos no formato privativo do AutoCad para formatos livres. Isso essencial para permitir que as pessoas migrem para softwares CAD livres, devido grande disseminao do uso de arquivos AutoCad nessa rea.

REL: Agradecemos a vocs dois pelo tempo e pela dedicao ao GNU e Liberdade de Software. Algumas palavras finais para nossos leitores?

BJG: Estamos organizando encontros regionais dos contribuidores do GNU em todo o mundo, e ouvimos falar que Rodrigo e Felipe estaro organizando um na conferncia FISL (de 21 a 24 de julho) em Porto Alegre. Portanto, gostaria de incentivar a qualquer um que esteja interessado em contribuir para o GNU a juntar-se a eles neste inverno – os detalhes do evento sero divulgados na nossa pgina de eventos em http://www.gnu.org/ghm/.

RMS: Milhares de pessoas tm trabalhado para tornar possvel aos usurios de hoje utilizarem um computador e ter controle sobre o que ele faz. Em 1983 isso era quase impossvel, porque primeiro voc teria de escrever um sistema operacional livre. Ns o escrevemos, e atingimos um patamar no qual rejeitar o software no livre e o SaaS perfeitamente possvel com algum esforo. Entretanto, gostaramos de tornar isso fcil e indolor o tempo todo, e ainda tem cho at chegar l. Agradeo por nos ajudar a faz-lo.

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Fonte: https://www.fsfla.org/cgi-bin/svnwiki/default/blogs/lxo/pub/gnu-interview.pt

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