DA CULTURA AFRICANA À MÃE HILDA JITOLU - O RESPEITO DO TERREIRO NA FORMAÇÃO SÓCIO-EDUCACIONAL DOS JOVENS DO CURUZU
Prof. Lúcio Dias
Este artigo está pautado no princípio da cultura africana na formação sócio-educacional dos jovens que freqüentam a Senzala do Barro Preto – Curuzu/ Liberdade, precisamente na Escola Mãe Hilda onde existe um Plano Pedagógico baseado nesses princípios para inserção social, ressalta-se a importância do trabalho desenvolvido nesta instituição para a inclusão do jovem que frequenta esse espaço sagrado.
É importante ressaltar que na produção deste artigo se estabelece um olhar diferenciado sobre a praxe educacional dos jovens do Curuzu oferecida pela Escola Mãe Hilda. Inclui a história da África como diferencial na formação cidadã dos jovens e, em paralelo, complementa essa formação ao desenvolver / motivar a auto-estima desses jovens ao buscar na historicidade negra o outro lado positivo relacionado ao respeito existente nas comunidades africanas e a sua riqueza, em contraponto a condição de inferioridade como escravo apresentado em grande parte da história africana.
A Escola de Educação Infantil Mãe Hilda foi pensada por volta de 1988/1989 quando a notícia que as filhas de Mãe Hilda estavam ensinando no terreiro e que até mesmo o comportamento das crianças mudou positivamente. Portanto, tratava-se de aulas de banca a pouco mais de cinco crianças que tinham dificuldades de aprendizagem, sendo que logo depois surgiram crianças com índice de bi-repetência e evadidas do outras escolas. Assim, então, pouco mais de um ano o espaço já não comportava tanta criança. Como sempre fora um sonho antigo da Yalorixá ter um espaço de educação formal, a mesma encorajou-se com tal expansão de jovens e foi à secretária de educação solicitar material para acomodação dos freqüentadores que começou no “barracão” das festas sagradas com duas professoras lecionando de forma multisseriada.
Contudo, a proposta pedagógica da Escola Mãe Hilda tem como referencial à música do ilê como instrumento/ ferramenta para o trabalho desenvolvido com os jovens. As músicas do ilê aiyê passaram da simples atividade do simples “cantar para motivar”, para “recreação” para a “lição” onde se pode interdisciplinar à vontade e com facilidade no cotidiano da praxe da escola. Pode-se destacar as principais características dessa formação educacional como:
• o respeito aos mais velhos;
• no Santo (independente da idade cronológica);
• o respeito às crianças;
• os cumprimentos (a bênção);
• respeito à natureza;
• ao seu semelhante;
• e o respeito a toda e qualquer religião.
A Proposta pedagógica da Escola Mãe Hilda ainda está em processo de sistematização e contínua experimentação dos métodos aplicados. Mesmo com a procura incessante por vagas na escola e a recusa devido à limitação do espaço os professores estão sendo qualificados continuamente para formação dos jovens da alfabetização á 5ª série e do ensino fundamental. Atualmente a Escola Comunitária Mãe Hilda atende a 210 crianças distribuídas nos dois turnos diurno existindo busca diariamente para o ingresso de novas crianças.
Portanto, o trabalho desenvolvido pela Escola Mãe Hilda, dentro da sede do Ilê Aiyê que se auto-afirma “o mais belo dos belos”, desenvolve diversas atividades comunitárias na busca acima de tudo da valorização no negro frente à sociedade, o aumento da auto-estima no presente e nas futuras gerações, baseado na imagem positiva do passado ofuscada por grandes intelectuais e banalizada pelos meios de comunicação de massa na sociedade soteropolitana.
Lúcio Dias
Professor Universitário e Relações Públicas
e-mail: luciodiasrrpp@hotmail.com
71 8746-6007
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