Nos últimos anos eu acompanho o desenvolvimento e a adoção de padrões abertos internacionalmente, e de alguns meses para cá, comecei a notar algumas estranhas movimentações e por conta delas decidi escrever este texto.
Existem dois fatos inegáveis no mundo da tecnologia da informação hoje em dia, que muitas vezes acabam sendo esquecidos no nosso dia a dia:
Empresas são monopolistas por natureza e a dependência tecnológica é a base do modelo econômico da indústria de tecnologia da informação.
O desenvolvimento de padrões tende sempre a comoditizar a indústria e por isso mesmo usualmente são desenvolvidos pelas empresas que dominam os mercados, e o fazem de forma preventiva. Quando estas não tomam a iniciativa da padronização, acabam vendo suas concorrentes mobilizando a calda longa para que desenvolvam em conjunto o padrão e este quadro alternativo costuma ser o cenário típico do desenvolvimento de padrões abertos.
Os governos do mundo todo usualmente são os grandes demandadores da indústria de tecnologia da informação e seu poder indutor nesta indústria é cruscial.
Foi assim que vimos um boom no desenvolvimento de padrões abertos, em grande parte demandado por governos do mundo todo (com destaque à União Européia), que perceberam o elevado grau de aprisionamento em que se encontravam e em que colocavam grande parte das empresas e cidadãos em seus países.
A indústria agiu rapidamente e tivemos inúmeros comitês nos últimos anos trabalhando no desenvolvimento de padrões abertos em tecnologia da informação, o que ocasionou verdadeiras guerras de padrões no mundo todo.
Em alguns países, a adoção de padrões abertos se deu de forma mais acelerada enquanto outros ainda debatem sobre quais padrões adotar, e como sempre este atraso no debate atende a interesses econômicos importantes.
O que noto com grande tristeza, é que existe uma sensação no ar de “batalha vencida” por parte de diversos governos e isso tem levado-os a não considerar mais a adoção dos padrões abertos como algo prioritário, mas como uma atividade corriqueira, como se tudo já estivesse concluído. Não canso de ver gente falando por aí: Isso aí é batalha ganha…
O resultado deste sentimento na indústria, é que muitas empresas já não tratam também o desenvolvimento de padrões abertos como algo prioritário e portanto, corremos o sério risco de ver padrões que levaram anos para ser desenvolvidos e adotados serem abandonados nos próximos anos.
A alegação que mais ouço das empresas sobre isso é que os governos deveriam trabalhar para a manutenção e o desenvolvimento dos padrões, e do lado dos governos, tenho ouvido com frequência que esta é uma função primordial da indústria… É assim que estamos caminhando a um perigoso jogo de gato e rato !
Por este motivo, eu alerto aos governos do mundo todo que cobrem cada vez mais a utilização de padrões abertos pela indústria de tecnologia da informação, e que cumpram com seu papel de fomentar o desenvolvimento de padrões abertos, principalmente através de casos de uso e de demandas do mundo real.
Lembro-lhes que as empresas em geral só enxergam lucro financeiro, enquanto os governos deveriam se preocupar com o lucro social, e sem a adoção de padrões abertos em TI, o acesso igualitário à informações e serviços públicos por meio eletrônico não são possíveis.
É importante ainda lembrar que em tempos de computação em nuvem, os padrões abertos são mais essenciais do que nunca, uma vez que a armadilha de aprisionamento aqui está na saída e não na entrada.
Desenvolver padrões abertos demanda muito mais tempo e recursos do que desenvolver padrões proprietários, além de comoditizar a indústria, dificultando o lucro fácil e imediato. Se deixarem esta decisão na mão das empresas, não se surpreendam com o resultado final.
* fonte: blog do Jomar
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: Comentários:
Comentário 1:
Jomar,
Parabéns pela matéria, este Alerta é muito importante e oportuno.
Não vamos nos cansar em divulgar e promover o Padrão Aberto de Documentos nas áreas governamentais municipais, estaduais e da união.
Precisamos de mais gente divulgando e promovendo o ODF nos municípios, estados e união.
O que já se tem no Brasil:
O então Governador do Paraná, Roberto Requião, sancionou no dia 18 de dezembro de 2007, a Lei 15742/2007 ODF. a Primeira do Brasil. http://miud.in/6m6
O Deputado Federal, Paulo Teixeira PR-SP, nos solicitou a ajuda para elaborar o Projeto de Lei 3070/2008 ODF, que foi protocolado na Câmara dos Deputados Federais no dia 25 de março de 2008. http://miud.in/jg9
A ABNT publicou no dia 12 de maio de 2008 a norma brasileira NBR ISO/IEC 26300 ODF. http://miud.in/E8N
Com a participação das instituições, como Caixa Econômica, Serpro, ODF Alliance, Dataprev, Celepar e muitos outras, no dia 27 de agosto de 2008, Consegi 2008, foi lançado o Protocolo Brasília ODF. Já são dezenas de Instituições públicas, privadas e ONGs. http://miud.in/jg9
Em 13 de dezembro de 2011, a Prefeitura de Novo Hamburgo - RS, foi publicado a Lei 2213/2010, com participação ativa de Márcia Schuller
No mês passado com a ajuda do Massao (cidade de Silva Jardim) e do Deputado Estadual Robson Leite, no estado do Rio de Janeiro, foi protocolado o Projeto de Lei 152/2011, no dia 03 de março de 2011. Fiquei feliz por essa notícia, é meu aniversário. http://miud.in/ow0
Também no mês março, com a ajuda do Elton, Deputador Estadual Miki Breier e com uma proposta inicial da Associação Riograndense de Emissoras de Rádio e Televisão Comunitárias a ARACOM, através do seu presidente, Lauro Pacheco, foi protocolado o Projeto de Lei 115/2011 no dia 29 de março de 2011. http://miud.in/DQw
Estamos conversando com gente da Paraíba e do Espírito Santo para termos a Lei ODF também nessas Unidades da Federação do Brasil.
Vamos lá pessoal!
Furusho
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