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Uma prosa com Seu Lázaro, o Fio da Flora

16 de Junho de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Meu nome é Lázaro Augusto Pereira, mas todo mundo me chama de Fio da Flora. Tenho 73 anos, nasci aqui e me criei aqui, na Flora. Então você pode gravar que eu quero falar o que tá aqui dentro de mim.

Eu toco violão desde a idade de sete anos, eu aprendi sozinho. Meu pai me deu meu primeiro violão. Ele chamava Antônio Felipe Pereira e minha mãe, Marieta Augusta Pereira. Eu tive seis irmãos. Eu gostava de tocar nos bailes, nos pagodes. A gente tocava a noite inteira.

Eu nunca nadei no rio, nunca aprendi a nadar. A gente brincava de tudo aqui quando criança, de pião, bolinha de gude... Eu tenho saudade da minha infância, tenho muita saudade de meus pais, minha mãe, meus irmãos. A gente sentava aqui, conversava, tocava um violão, uma sanfona. Eu sinto saudade disso, dois seis irmãos mais velhos, só sobrou eu. E eu 'tô aí, tocando violão até hoje.

A casinha que eu nasci ainda existe, é numa fazenda, fazenda São José. Lá plantava de tudo: café, milho, arroz, feijão. Naquela época, aqui na Flora não tinha nada. Aqui não tinha nem venda. Mas passava tropeiro vendendo as coisas. Antigamente a condução era cavalo ou a pé, era o único meio que tinha. Existia aqui umas duas ou três casas, o resto era tudo mato, beira de rio.

Antigamente tinha mais peixe, já pesquei muito nesse rio. Pegava dourado, piaba, piau, curimba, tudo quanto era peixe. Hoje acabou tudo, a poluição acabou com o rio Verde. Esse rio aqui passa por sete cidades, os esgotos caem tudo no rio, inclusive daqui da Flora.

A balsa aqui antigamente era tocada no bambu. Teve uma vez uma balsazinha aí, ela tombou lá do outro lado e jogou muita gente no rio. Depois, foi passando um tempo, a ESA doou uma balsa de fibra, aí era puxada na corda. Existia um barqueiro só, o José Cunha, agora é o filho do José Cunha.


Na época que passava o trenzinho aqui, era muito bom, hoje não tem nem a estação. Hoje passa só cargueiro. O trem parava aqui, tinha trem de passageiro e de cargueiro. Ia pra Varginha, ia lá pra Juréia. Era a única coisa que a gente tinha aqui, naquela época. Passava uns cinco, seis por dia. Desde que eu nasci já tinha.

A gente viajava de trem só pra Aparecida. A gente ia até Cruzeiro, depois fazia baldeação e pegava outro lá. Era uma maravilha! A gente saia daqui 5 horas da manhã e chegava em Cruzeiro duas horas da tarde. Ia vendo as serras, passava no túnel. Quando era maria fumaça e passava no túnel, tinha que fechar as janelas senão morria sufocado por causa da fumaça. Levava cinco minutos para atravessar o túnel. A gente ia pra Aparecida por devoção a Nossa Senhora.

Vi duas enchentes bravas aqui, a de 46 e a de 2001. Isso é fenômeno da natureza, chega na época das chuvas, chove demais, o rio enche e alaga isso tudo aqui. Antigamente, chovia bastante, agora hoje, o tempo mudou, com essa global aí, o aquecimento global, tá chovendo demais. O rio foi diminuindo, esse rio vinha quase até aqui. Essas dragas foram tirando areia, o rio foi afundando mais e diminuiu. O homem que faz isso, nós estamos destruindo a natureza. Quem é que pode segurar o homem? Ninguém pode segurar o homem, e quem tá sofrendo é a população.


Eu sempre desejo que as autoridades municipais olhem mais para a Flora. Eu adoro esse lugarzinho. Adoro minha Florinha querida, sou florense de coração... Agora, que tipo de música vocês gostam? Eu vou tocar uma música para vocês. Eu sou mais o tipo romântico. “Eu preciso te falar, te encontrar de qualquer jeito...

Esta entrevista foi gravada durante o projeto Caravana da Cidadania. Participaram Andressa Gonçalves, Júlio Matuck, Mônica Furtado e Paulo Morais.


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