Em frente minha casa no alto do morro tem um Forte; desses com muros gigantes de pedra e guarritas por todos os cantos. Do outro lado, uma ponte bem iluminada corta o céu na noite quente de verão e as luzes dos barcos na Baía e dos carros na ponte não deixavam dúvidas de que o desassombro me fascinava.
Mas e as guaritas, os sentinelas?
Eles vigiam todos que desejam fazer a travessia e não satisfeitos tentam destruir vidas, esperanças e aniquilar os sonhos de quem quer que seja.
Nos porões escuros repletos de ratos por trás dos muros é o último lugar que se vai parar sendo pego ao tentar atravessar.
Mas é hoje e não esperarei mais um dia sequer!
Arrumar as malas não é difícil pois não as tenho e tão pouco o que colocar dentro.
Mas o medo, levarei comigo?
Mesmo que desejasse não suportaria o peso e a dor da derrota a confrontar meu ser como um fantasma por toda minha vida.
Estou na porta da frente e não consigo abri-la; o medo de ser arrastado sem chance ao menos de falar, ver o rosto do carrasco – logo eu, boca calada, olhos fechados, punhos cerrados – me faz pensar se a liberdade é assim tão recompensadora.
Maldição!
É isso que eles querem!
Medo, assombração!
Abro a porta e corro - o mais rápido que posso – atravesso a ponte.
A liberdade me deu asas.
Felipe F Nunes
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