Ir para o conteúdo
ou

Software livre Brasil

 Voltar a Blog da fabs...
Tela cheia

Um arraial sem arraiá

7 de Junho de 2010, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 639 vezes
{img src='http://estudiolivre.org/tiki-view_blog_post_image.php?imgId=352' border='0' alt='image' width= height= align=center desc= link= }
::''ilustração: [http://www.flickr.com/photos/fingicalma/4014363360/|Fingi calma]''::

Dizem que de médico e louco todo mundo tem um pouco. E que a [http://submidialogias.descentro.org/about/subarraial-dajuda-bahia/|turba submidialógica] que passou por Arraial D'Ajuda durante o mês de maio é louca, não se tem muita dúvida. Mas que também somos um pouco médicos/pajés/curandeiros, bem, sobre este fato acho que não se refletiu muito não. Então vamos lá.

Entendo que o adjetivo tem se aplicado mais no sentido de um diagnóstico do que de uma cura propriamente dita. Pois houveram boas ponderações sobre os males que assolam Arraial, mas poucas propostas para um encaminhamento efetivo de sua solução. Só que o submidialogia, na minha opinião, tem ação mais homeopática que alopática. Mais causal que paliativa. E que independente de sua quantidade, a dose homeopática aplicada com certeza afetou o âmago de muitas questões. Só que isso é algo que vem de meu intuitivo, portanto sem chances de colocar em uma tabela pra demontrar sua validade (ok, petrobrás?). Tampouco estou discorrendo tese de mestrado por aqui. ;-)

Esta constatação também não é externa a mim, pois também eu fui mais homeopática que alopática em minhas interações. Então ainda bem que a web me permite a continuidade do trabalho, pois poucas homeopatias funcinam apenas em dose única. Se vai servir para algum trabalho futuro e de maior permanência e resgate da região, isso eu não sei. Mesmo porque eu não moro por lá e muito menos estudei profundamente o contexto da cidade. Porém, por vezes uma visão rápida de fora nos dá um ''insigth'', e é isso e nada mais que isso que vou compartilhar na minha reflexão por aqui.

O ''insight'' de que falo veio da conversa de madrugada com o Escorrega, motorista da kombi que nos levou até o aeroporto na volta. Eu e Drica dormimos quase que o trajeto inteiro, porém em um dado momento fui acordada pelo rapaz me perguntando se poderia dar carona a outro rapaz. Resolvida a questão, puxei conversa e perguntei pra ele sobre a onda de vendas de imóveis que estava acontecendo na cidade, das inúmeras pousadas que a cidade abrigava que estavam vazias, etc. Ele respondeu que Arraial já estava "caindo de moda", e concordou comigo que este tipo de turismo que existe hoje por lá não é sustentável mesmo.

(Aqui me permito um parênteses importante para relembrar uma fala de tininha em nosso quarto, comentando sobre alguns hippies. De que é geralmente esta tribo que descobre os lugares paradisíacos, mas que depois acabam "infestados" pelo turismo predatório devido à sedução das oportunidades de lucro que se apresentam nestes cenários.)

Vendo algumas bandeirinhas ao longe, resolvo então do nada perguntar: e as festas juninas? É quando então sua voz fica meio embargada, denotando uma profunda nostalgia. Me conta que as festas juninas em __Arraial__ D'Ajuda eram uma delícia. Aconteciam sempre na praça da igreja e envolviam todos os moradores da cidade. Mas que em um determinado momento, a cidade passou a ficar muito "chique", e aí o prefeito transferiu a festa pra outro local, pra longe do centro e de sua mini Oscar Freire, que atende pelo singelo nome de Rua Mucugê. Ou seja, obviamente, rolou uma higienização da cultura popular por lá.

E a conversa prosseguiu assim, ele me contando das tradições perdidas, das coisas que ele mais gostava e também de que muitas pessoas de fora gostavam. Me disse que muita gente de cabeça boa que foi pra arraial se decepcionou com a elitização e foi embora. Que quase só ficaram os oportunistas, mas que agora até estes estão sendo forçados a sair fora porque o lucro fácil do turismo já não está mais tão fácil assim, ao que me perguntei internamente: não seria este refluxo um mal necessário?

Sei lá. Só sei que Arraial D'Ajuda parece mesmo estar com sua essência avariada. Mas acredito sinceramente que ela pode ser resgatada se seus moradores conseguirem sair do embotamento do lucro rápido em que caíram para encontrar novamente suas raízes e revitalizar suas conversas sobre seus destinos. Porque, citando Ximena D'Ávila, toda dor e sofrimento pela qual se pede ajuda é de origem cultural, surgem de uma história de negação cultural. E a "prescrição" recomendada nada mais é do que o mais puro e simples conversar liberador.

Por isso não tenho dúvida de que os encontros submidialógicos são também processos de cura. Mas geralmente esta cura se restringe mais ao grupo que propõe e organiza o encontro do que à comunidade do espaço físico onde o encontro acontece. E talvez assumir isso que seja o mais importante de tudo. Porque dá um exemplo concreto, mesmo a quem só assiste de fora, de como uma rede pode funcionar e se auto-curar, deixando-se ver por dentro de suas entranhas, aberta e mutante em todas as suas conexões.

Aula prática de anatomia dentro de um organismo vivo.

E onde os órgãos somos nós mesmos.


Fonte: http://estudiolivre.org/tiki-view_blog_post.php?postId=1170

0sem comentários ainda

Enviar um comentário

Os campos são obrigatórios.

Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.