Intervir e deixar fluir.
15 de Junho de 2014, 12:43 - sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.A etiqueta social é mais ou menos assim. Pessoas se encontram e, dependendo das circunstâncias, se cumprimentam ou realizam qualquer interação conveniente. Seguem regras de conduta que se erigiram culturalmente e, no limite, é como se fosse uma máquina. É uma questão de seguir regras. Infelizmente, muitos se pautam por essa “proto-máquina”, desprezando o fato que pessoas não são exatamente programadas e que a sociedade não é um sistema exato. Entre o input e o output há sentidos e sentimentos e as relações desenhadas são de uma complexidade indefinível, a não ser simplisticamente.
Um problema surge quando se evocam regras exatas e relações lógicas ordinárias para tomar decisões e defender ideias e atitudes. Pode-se dizer que tal ou qual pessoa está certa, mas enquanto se trata de certeza matemática, o que acontece é a provocação de sofrimentos. Sofrimentos acima da certeza. Algo que não parece bem certo.
Talvez ainda estejamos embebidos num vício iluminista de achar respostas nos mecanismos, numa dura arena intelectual, como se só nessa dimensão a humanidade devesse viver. Um horrível dever.
Mas existem ainda outras dimensões. Essas, talvez mais familiares àqueles que eram ruins em matemática na escola. Uma delas, muito importante à convivência entre os seres, é a alma das sensações. E sensação não é algo que se explica, ou, quando se tenta, o resultado é paupérrimo.
Acho que felizes são os que compreendem que não se constrói relacionamento como se constrói um edifício de concreto. Que não há leis de causa e efeito como aquelas propostas por Isaac Newton, que possam modelar o encontro das almas. Que o ambiente dos encontros pessoais é completamente misterioso, mais apropriado ao que se convencionou entender por arte.
Arte é uma coisa que flui. Deixar fluir é uma arte. Talvez, sabedoria seja saber deixar e saber provocar. Talvez isso não se aprenda na escola. Talvez seja o resultado de toda uma vida, que nos presenteie com uma satisfação na etapa presente e com uma esperança para a seguinte. E que seja por esse fluxo que aproximemos, cada vez com mais exatidão, o que imaginamos com o que seja possível.
Que saibamos o quanto deixar fluir e o quanto tentar direcionar o fluxo. Mas observemos uma diferença: Seguramente, os desertos são feitos pelo deixar fluir. Já os campos, tornam-se férteis pelas intervenções, pelas atitudes intencionais, pelo fazer humano.
Que continuemos nos aperfeiçoando na arte de tentar. E descobrir.
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