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Brasil inaugura o futuro do cinema

3 de Agosto de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Mapa do Global Lambda Integrated Facility (GLIF)

Mapa do Global Lambda Integrated Facility (GLIF)

O Brasil está entre os países que detêm uma das melhoras infraestruturas para transmissão de cinema em alta velocidade do mundo. No dia 30 de julho de 2009, um grupo de pesquisadores da Universidade Mackenzie, de São Paulo, em conjunto com mais de 60 pesquisadores no Brasil e no mundo realizaram um feito inédito na história das redes e do cinema: transmitiram através de fibras ópticas (redes fotônicas) com velocidade em torno de 10Gbps um filme digital em super alta definição (4K) para dois países ao mesmo tempo. O Digital Media Center (DMC), da Universidade de Keio no Japão e o Calit2 da Universidade da Califórnia em San Diego, Estados Unidos, puderam assistir em tempo real ao filme “Enquanto a noite não chega”, com direção de Beto Souza e Renato Falcão, com definição superior a 8.000.000 de pixels por frame. O formato 4K, como é conhecido esse novo processo de renderização de imagens cinematográficas, já foi aceito como a resolução mínima dos filmes que substituirão os padrões atuais pela DCI (Digital Cinema Initiatives), uma associação que congrega os 7 maiores estúdios de Hollywood.

A primeira transmissão de um filme em redes de super alta velocidade requer uma quantidade significativa de conexões e de roteadores, além de servidores de grande porte, para dar conta de projetar o filme e, além disso, de envia-lo através de routers e distribuidores de informação para vários locais do mundo até chegar ao seu destino. Os servidores de renderização de imagens são potentes máquinas criadas especialmente para esse fim que podem ler 10, 20 terabytes de informação e projetá-las em tempo real. Um filme de 70 minutos em formato 4K tem uma média de 4 a 8 terabytes (não comprimido).

As câmeras de captura em 4K ainda são raras no mercado e existe uma polêmica em torno do padrão de captura e das atribuições de cores, pois cada fabricante defende que o seu sistema é mais acurado e renderiza melhor o formato final.

Redes

As instalações das redes que fizeram a transmissão do primeiro experimento nessa área no mundo foram criadas  para servir e interligar grandes centros de pesquisa ao redor do mundo. A experiência pioneira de utilizar essa infraestrutura para a transmissão de cinema foi um marco na criação de novas formas de utilização dessas redes e também colocou o Brasil em um novo patamar em termos de distribuição, acesso e interligação de grandes bases de dados, que agora além de dados científicos e tecnológicos, passam a também distribuir cultura em forma de imagens em movimento, animações, performances teatrais, óperas e concertos. As redes utilizadas na transmissão são conhecidas como Kyatera, da FAPESP, ANSP e RNP que, como mostra o gráfico abaixo, passam nas universidades que possuem pesquisa na área de redes e fibras ópticas. As redes de alta velocidade também são chamadas de redes fotônicas.

Projeto de transmissão do 4K

Projeto de transmissão do 4K

Atualmente existe um interesse crescente em interligar, além de centros de pesquisa avançados, espaços culturais como Cinematecas, bibliotecas, filmotecas, teatros e cinemas, entre outras instituições culturais, através de uma parceria entre a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) e o Ministério da Cultura. Pelo que fomos informados, isso seria inédito em termos de abragência dessas novas redes e colocaria o Brasil como um potencial emissor de conteúdo cultural para os demais países conectados às redes. Para se ter uma idéia, o Brasil é o único país listado no mapa do Glif, ou seja, é o único que possui redes acima de 1Gb na América Latina. Com essa conexões ativas, é possível que dentro de poucos anos o Brasil possa ser um centro de produção de filmes em larga escala, pois com  conexões rápidas a edição de filmes pode ser realizada em tempo real com vários países do mundo. A edição de áudio, a renderização de uma imagem, a aplicação de cores, enfim, todo o processo de edição pode ser feita em vários países ao mesmo tempo, com o diretor do filme no Brasil assistindo em tempo real o que está sendo feito e podendo ele mesmo editar o filme em alta definição.

Cinema e redes

A proposta de integrar cinema com redes ópticas partiu de dois pesquisadores da Universidade Mackenzie, Jane de Almeida e Eunézio de Sousa, também conhecido como Thoroh, além de um dos organizadores do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (FILE), no caso o autor deste post. Os primeiros contatos para efetivar essa transmissão começaram no ano de 2007, quando alguns pesquisadores do Mackenzie e do FILE participaram do Cinegrid (uma associação dedicada ao estudo das redes de alta velocidade) e decidiram projetar filmes com tecnologia 4K no Brasil pela primeira vez. Em 2008 o FILE teve sua primeira projeção de cinema em super alta definição. Durante uma semana, mais de 3.500 pessoas passaram pelo auditório do Sesi, na Avenida Paulista, para assistir a pequenos trailers de filmes capturados e renderizados nesse formato, assim como a palestras sobre essa nova imagem que surge com o advento da super alta definição. Na ocasião, o FILE se chamou 2.008.000.000, em alusão ao número de pixels da imagem 4K mais o ano em que estávamos naquele momento. Depois de realizado o FILE 2008, pesquisadores do Mackenzie e do FILE novamente foram à UCSD tentar dessa vez encontrar pesquisadores interessados em realizar a primeira transmissão de um filme longa metragem em redes de fotônica de alta velocidade. No Cinegrid de 2008 foi então acordado com a Universidade de Keio, através do presidente do Digital Media Center, Naohisa Ohta e com Sheldon Brown, diretor do Center for Research in Computing and the Arts (CRCA) a primeira transmissão de um filme longa metragem do Brasil para dois países distantes. Mas havia um problema: que filme transmitiríamos se não havia nenhum longa pronto no formato 4K? Foi quando os organizadores decidiram contatar os diretores do filme “Enquanto a noite não chega” e propor a transmissão para Japão e Estados Unidos. Depois de decidido o filme, começaram os trabalhos de infraestrutura mais difíceis. Houve a necessidade de interligar via fibra óptica a Universidade Mackenzie e o teatro do Sesi, onde ocorreu a transmissão. Essa conexão foi realizada pela Telefonica, que instalou a fibra até o local. Também foi necessária a aquisição de equipamentos de codificação e decodificação de grande porte, para atender às demandas da rede, além de servidores de alta performance para suportar a renderização e transmissão do filme. Cabe aqui uma informação importante: os softwares que fazem a rede funcionar, além do sistema de visualização, são Open Source. Realizados esses primeiros passos, começaram os primeiros testes entre os pesquisadores envolvidos e muitos problemas começaram a aparecer. Em dezembro de 2008, os pesquisadores envolvidos no projeto haviam sido avisados que o Brasil teria seu link ampliado de 2.5Gb para 10 Gb, mas não haviam recebido uma data específica para isso. O upgrade acabou sendo realizado três semanas antes do evento e a transmissão do cinema em super alta definição foi o que praticamente inaugurou a nova rede de alta velocidade. Depois de mais de um ano e meio de trabalho, as redes e os sistemas ficam prontos e em julho de 2009 o Brasil fez história como sendo o primeiro país a produzir um longa em 4K a transmitir a sua première para dois países em continentes diferentes através de redes fotônicas de alta performance. Segundo o diretor do Calit2, Ramesh Rao “O evento como um todo foi memorável”.

Leia abaixo o texto da organização do evento

O retorno do cinema orientado pela invenção: novas luzes

O cinema, “a invenção sem futuro” dos irmãos Lumière, marcou o século XX de forma profunda e enriquecedora. Muito do que se disser do sujeito do século XX no futuro será atribuído ao dispositivo de maravilhamento do cinema. Agora, mais de 110 anos depois, este efeito não parece ter esvanecido, apesar do sentimento de naturalidade que temos diante da tela de cinema. Depois de vários estágios, a tecnologia de produção de imagem em movimento sofreu profundas mudanças com o computador e hoje se consegue obter e projetar imagens de qualidade inquestionável, com resultados estéticos surpreendentes até para os amantes da película.

Mas foi preciso que as luzes do cinema encontrassem as luzes dos fótons para que essa imagem potente pudesse ser transmitida sem perda de qualidade. Além da rede de conexões de suporte físico, é também necessária uma rede de cientistas, pesquisadores e inventores que procura tornar realidade este salto tecnológico do sonho de ubiqüidade.

Os pioneiros do cinema também se consideravam inventores e cientistas, até porque a profissão “cineasta” não havia sido inventada. “Apporter le monde au monde” – trazer o mundo ao mundo, era o slogan dos irmãos Lumière e da Pathé-Film. Conforme observa o cineasta Alexander Kluge, a frase pode ter dois sentidos: o nascimento de novas imagens, de um novo mundo, mas também significa que o mundo filmado está sendo exibido em Paris. Naquela época, várias câmeras foram enviadas a vários países do mundo para registrar os movimentos das culturas distantes, à procura de “imagens jamais vistas”. Hoje, o aparato tecnológico de super alta definição pode tornar visíveis imagens em escala micro e macro, de lugares distantes, nunca visitados. Pode também transmiti-las. Depois de anos de narrativa ficcional, cientistas e inventores procuram mais uma vez as imagens jamais vistas, agora para trazer o universo ao mundo.

Jane de Almeida

Veja imagens do dia da cinemaconferência, com a presença do Ministro de Estado da Cultura Senhor Juca Ferreira, e demais autoridades.

Assista à cobertura completa realizada pela TV Cultura:

TV Cultura

Site do UOL: http://tecnologia.uol.com.br/ultnot/multi/2009/07/31/04023562C4C98346.jhtm?filme-em-super-alta-definicao-e-transmitido-em-sao-paulo-04023562C4C98346


Fonte: http://www.culturadigital.br/blog/2009/08/03/brasil-inaugura-o-futuro-do-cinema/

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