Fonte: Blog do Gusmão
Imagem: José Nazal
O Parque Municipal da Boa Esperança tem 473 hectares e é um dos poucos locais de proteção ambiental situados em zona urbana. A importância estratégica desse patrimônio vivo do município de Ilhéus é reconhecida há quase um século. Em 1927, a área foi destinada para conservação com objetivo de proteger os mananciais que mantinham o antigo sistema de abastecimento de água da cidade. Décadas depois, em 2001, a Lei Complementar Municipal nº 001/2001 regulamentou a criação da unidade ecológica.
No domingo (3), as condições atuais do parque foram tema de parte da exposição do professor de biologia Emerson Lucena (UESC) durante encontro realizado pelo Núcleo de Resistência do PSOL de Ilhéus, no hotel Barravento. O Blog do Gusmão aproveitou a oportunidade para realizar uma entrevista rápida sobre os desafios para a gestão da área.
O biólogo destacou questões como a necessidade de estruturar o parque para visitação pública. Também falou da importância da área para o desenvolvimento de pesquisas e defendeu a realização de projetos que aproximem a população ilheense da floresta. Além disso, revelou a tentativa de convencer o Ministério Público a negociar, nas transações penais, contrapartidas em benefício da unidade. Leia.
Blog do Gusmão – O senhor disse que tenta convencer o Ministério Público Estadual a buscar contrapartidas nas transações penais para beneficiar o Parque Municipal da Boa Esperança. Por favor, explique essa ideia.
Emerson Lucena – Na verdade são conversas informais, na tentativa de estabelecer critérios para a abertura do parque para visitação pública. O objetivo é ter um parque divulgado, com trabalhos articulados com as escolas por meio da educação ambiental, com visitação programada, acompanhamento de guias e a criação de um ponto onde as pessoas possam de fato se sentir seguras. Um dos problemas do Parque da Esperança é a falta de estrutura que garanta segurança para os visitantes. Na minha concepção, isso seria fácil se houvesse uma articulação entre os órgãos públicos, a começar pela atuação do policiamento ostensivo.
O parque é importante por ser um remanescente de Mata Atlântica bem conservado, numa zona urbana, no meio de um corredor ecológico, dentro de um hotspot (ponto quente) de biodiversidade. Além disso, não é um local de difícil acesso. Com essa estrutura, poderia atrair mais pesquisadores não só aqui da região.
Blog do Gusmão – E como andam as conversas como o Ministério Público?
Emerson Lucena – É uma ideia que está amadurecendo em torno de um olhar diferenciado sobre as contrapartidas para beneficiar os serviços ambientais, como a proteção dos mananciais. Ali tem uma área importante e riquíssima de aquíferos.
Blog do Gusmão – Ainda mais importante nesse momento de crise hídrica, correto professor?
Emerson Lucena – Sim! Além disso, é possível trabalhar com a produção de sementes para reflorestar áreas próximas. Já temos projetos muito importantes aqui na região, como o desenvolvido pelo Instituto Floresta Viva em Serra Grande. Poderia haver troca de mudas garantindo a diversidade genética.
Por si só, ter aquela área conservada é importante. Isso é óbvio. Mas, além disso, é fundamental que o parque não seja um local isolado, como ocorre hoje. A ideia é que o povo não fique distante da floresta, que pode ser frequentada também por meio de atividades educacionais para a formação tanto nas universidades como nas escolas, com projetos de educação ambiental. A Bahia tem uma lei de educação ambiental, com diversas diretrizes que deveriam ser implementadas inclusive aqui em Ilhéus. Ilhéus é um espaço riquíssimo. Nós não podemos esquecer o grande potencial que a nossa cidade tem.
Blog do Gusmão – Inclusive com o turismo ecológico.
Emerson Lucena – Isso. E já existem propostas nesse sentido, com o turismo de base local e a chamada Floresta do Chocolate. O problema é que o parque, digamos assim, tem sido desprestigiado pelo poder público. E nós não podemos mais aceitar que esses espaços não sejam tratados de forma prioritária para a conservação da Mata Atlântica e para a educação do homem, tendo como premissa a continuidade do entendimento da importância desses lugares.
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