Durante o Fórum Social Mundial realizado em Salvador, entre os dias 13 e 17 de março, intelectuais, ativistas e veículos baianos contribuíram para o sonho de construir uma outra comunicação. Uma demonstração para o mundo que o estado tem um histórico de resistência contemporânea nesta área muito além de uma agenda política ou veículos de governos
São profissionais formados e pesquisadores em seis universidades públicas (UESC, UNEB, UESB, UFRB, UFBA e UFOB), nos mais diveros cursos: publicidade, jornalismo, audiovisual, rádio e tv. Dezenas de organizações e ativistas no ramo sindical, ONG's, coletivos e redes. Além de muitos veículos e comunicadores nos diversos gêneros e linguagens da comunicação, tanto na capital quanto no interior.
Sim, existe um movimento social de comunicação vigoroso no estado, e ele está muito além dos modelos de organização que padronizam e unificam estas práticas. Um movimento que deseja contradição e pluralidade, como o Luiz Dennis Soares se colocou no blog Trampo suas impressões sobre o Fórum.
Segue um pedaço desta diversidade, a começar nas fotografias de Marco Musse no ato em homenagem a Marielle Franco, no dia 15, os textos e fotos de Ivana Sena na Revista Quilombo com um apanhado do Fórum, e a reportagem da WebTv da Uneb de Juazeiro.
Mídia negra
Nas mesas, o debate sobre a mídia negra encheu uma das salas da Faculdade de Comunicação da UFBA no dia 14 com a presença dos professores da Uneb de Juazeiro, Márcia Guena, Ceres Santos e Pedro Caribé. Márcia trouxe uma avaliação sobre como a cobertura de imprensa, a partir do Jornal Nacional, sintetiza o caráter racial da intervenção no Rio Janeiro. Por triste ironia do destino, neste mesmo dia Marielle Franco viria a ser executada à noite. Já Ceres Santos trouxe como as mulheres negras têm superado os modelos de representação da mídia comercial e construído seus próprios mecanismos de expressão. Pedro Caribé fez um resgate histórico da mídia negra no Brasil e suas implicações no enfrentamento à liberdade de expressão condicional. Também esteve presente no espaço o professor da USP Dennis de Oliveira, e fez um comentário sobre a necessidade de reconhecer a diversidade da mídia negra sem buscar padrões que desumanizam a subjetividade dos seus participantes.
No mesmo dia 14, a Casa do Olodum recebeu a roda Negritude 2.0 com Tia Má e Heraldo de Deus:
Mulheres:
O “II Encontro Internacional Ciberfeminista:decolonizando a internet” foi cancelado em homenagem à Marielle, e as suas participantes foram para a marcha iniciada na Tenda Povo Sem Medo, dia 15 às 9h. O objetivo foi reunir lideranças feministas e de grupos de mulheres que utilizam a internet para a socialização de experiências e proposição de espaço seguros, de autodefesa e de usos críticos dessa ferramenta de comunicação.
Juventude:
A Oficina Quilombox - Estratégias para filmar agressões policias: tecnicas de vídeo aliadas a técnicas de proteção individual e coletiva foi coordenada pela Anistia Brasil e teve a parceria com a Cipó e coletivos juvenis negros como o Sarau da Onça e o AfroBapho. Também foi tema a comunicação na vida de crianças e adolescentes, envolvendo questões como a diferença entre entretenimento e publicidade, limites entre a privacidade dos adolescentes e a "vigilância" dos pais, cyberbullying e a migração da publicidade das TVs, com a presença de Juliana Cunha, da Safernet.
América Latina:
O seminário Avanços e retrocessos da transformação democrática na América do Sul: dimensões político-comunicacionais, ocorreu no dia 16, sexta-feira. Sob a coordenação de Renata Rocha (UFBA - CULT), e com os expositores, Emiliano José, Gislene Moreira Gomes (UNEB/Seabra), Pedro Andrade Caribé (UNB/UNEB/Bahia1798). Emiliano José fez uma leitura de como a obra de Gramsci e os conceitos de hegemonia e partido são válidos para avaliar a situação brasileira potencializada ocm o golpe. Ele fez uma autocrítica da política de comunicação dos governos petistas e o predomínio da idéia de mídia técnica que ajudou a fortalecer a mídia golpista. Gislene Moreira apresentou a sua tese de doutorado sobre as políticas e movimentos de comunicação na América Latina com ênfase ao Brasil, Argentina e Venezuela durante os governos de esquerda. Gil demonstrou como o tempo trouxe graves fragilidadades às perspectivas de mudanças nos três países, mesmo com as diferenças internas, e hoje uma onda conservadora se alastra na região. Jà Pedro Caribé retomou o tema da liberdade de expressão condicional e suas relações com a cultura do silêncio, formulação de Paulo Freire a partir dos escritos de Padre Vieria no séc. XVII. A atividade foi realizada por: CULT, Pós-Cultura e IHAC/UFBA; Fórum Universitário Mercosul (FoMerco), Rede de Estudos em Políticas Culturais (Redepcult), Rede Latino-Americana de Gestão Cultural (RedLGC)
Cobertura
Na cobertura, além da Tv Web da Uneb Juazeiro, apresentada no começo desta reportagem, também vale mencionar o papel da TV Sindae, associada à Tv do Trabalhador, e responsável por diversas atividades sindicais no Fórum. A Mídia Lampião acompanhou o Fórum e produziu conteúdo desde Marcha de Abertura e fez a cobertura ao vivo dos debates de Direito à Cidade. A Tv Kimurerê també realizou atividades de cobertura com a dupla Kau Rocha e Zezão Castro. E, por fim, os olhares da Tv Web Cultura de Eunapólis, e seu foco nas atividades voltadas às comunidades tradicionais.
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