Apenas um reflexo luminoso
que duvidoso, a sala invade
sendo o único acompanhante de um míope
que o papel ainda vê com dificuldade.
Mais uma noite conhecida
sem chuvas nem companhias
tendo um livro ao lado,
um verdadeiro amigo,
que tenta inultilmente fazer entender
as libertas palavras lidas.
Um espiral de pensamentos
com o eixo de um desejo,
tão claro, distante e embassado,
que o míope não pode definir,
mas simples e acessível,
e perto como o papel iluminado.
Um pensar restrito à escuridão
visão não tão eficiente quanto o coração,
que de perto pode sentir um afago ausente,
quiçá míope como todo o corpo.
Sem gostar da fria distância
que alimenta os defeitos e dúvidas,
o reflexo luminoso insiste
para que palavras sejam transfiguradas
pelas atitudes mortas,
que no vácuo dizem existir.
Mas o que serão os sentidos?
O livro não consegue responder...
Certamente, desejos incontroláveis não os são.
Provavelmente, ternuras não compartilhadas.
Indeclinavelmente, atitudes perdidas entre palavras.
O corpo míope amedrontado pela distância
busca refúgio nas injustas palavras,
pois suas lentes não podem ser compradas
mas devem ser conquistadas.
Uma nova busca no livro...
e é evidente que as lentes deste corpo
nada mais são que outra mente,
consciente que pode vencer a distância,
tanto quanto o reflexo luminoso
que fornece ao papel um alaranjado tom,
fazendo deste, algo mais valoroso.
Mas a noite já tarde e as luzes...
estas são acesass diluindo o pensar
e explicando as palavras,
tornando o livro que ao lado ainda está...
mais útil do que na escuridão.
Agora sim, na falsa luminosidade
as palavras podem até ser apagadas,
embora carreguem a outros olhos sentimentos,
que uma vez lidos...
jamais poderão ser esquecidos
eternizando as chuvas, as companhias e as palavras.
Autor: Amadeu A. Barbosa Júnior
Data: 09/01/2002
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