Costumo insistir muito: hacker é do bem, cracker é do mal (dicotomia simplista, admito, mas ajuda a entender). Porque insistir nisso? Coisa de linguista maluco? Bom, linguista maluco como eu costuma chamar pendrive de "a" pendrive, porque eu traduzo como caneta e caneta é feminino, então admito: sou sim um linguista maluco, mas talvez haja mais do que uma discussão gramatical aqui.
Acabei de ler um ótimo artigo do mirodrig sobre bots que podem ser usados maliciosamente. Ele, no artigo, usa a palavra hacker do mesmo jeito que a maioria de nós: hacker não é, por princípio, nem bom nem mau, tudo depende das intenções por detrás das atividades.
Não é à tôa que o Nelson Pretto tanto fala que o bom professor é hacker: a filosofia por detrás do software livre é baseada numa atividade hacker, muito parecida com desmontar um relógio para descobrir como funciona. Ou inventar dezenas de combinações para descobrir a receita de um prato famoso.
Hackear é uma atividade ligada à computação, mas não é, como podemos perceber, uma atitude nova. Todos os dias cidadãos comuns no mundo inteiro agem com essa atitude. Querem fazer eles mesmos e, para isso, podem seguir instruções (sites, revistas e canais de TV sobre "como fazer" proliferam como mosquito da dengue) ou podem inventar seu jeito de fazer.
Jamais vão pensar que descobrir um jeito de entrar em casa quando esqueceu a chave no escritório (já me aconteceu) é uma atividade maliciosa. Seria se a casa não fosse minha.
O Mac Donalds pode manter em segredo todas as suas receitas, mas se você quiser fritar batatinha igual a eles, procura na internet, tá lá. E ninguém vai ser processado porque fez isso. Ah, e fritar as benditas batatas igual a eles não é fácil... Isso não diminui a importância do compartilhamento dessa informação.
Criar um bot que se espalhe por vários computadores pode ser imediatamente recebido como ameaça, mas pode não ser: embora nossa sociedade não esteja acostumada a compartilhar recursos (pobre planeta...), muitos de vocês já devem ter ouvido falar em bitorrent (compartilhar recursos de rede para compartilhamento de arquivos: você baixa um arquivo e ajuda outros a baixarem) ou de projetos que aproveitam recursos computacionais espalhados no mundo para processamento de pesquisas cient[ificas (por exemplo, o CERN).
Tal como a energia nuclear não é, em si, uma tecnologia ruim, a atitude hacker também não é. Optar por falar em cracker no lugar de hacker quando nos referimos a "hackers do mal" é uma opção talvez a mais politicamente correta, mas não é fácil. No entanto, acho mais difícil ainda convencer uma maioria da população de que ser hacker é bom, é desejável, é louvável. Gosto de desafios: vou continuar tentando...
Há hackers e hackers
25 de Outubro de 2011, 0:00 - sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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